«A comemoração solene dos 50 anos do 25 de Novembro exibiu alguns dos momentos mais pueris (é, claro, um eufemismo) da vida pública dos últimos tempos. Custa a entender como gente culta e inteligente como o Presidente, pessoas responsáveis como ministros e o primeiro-ministro, ou sensatas como o presidente da Assembleia da República, deixou associar os seus nomes a esse combate risível entre rosas brancas e cravos vermelhos. Como nas brigas dos recreios das escolas primárias, o que estava em causa eram coisas insignificantes como a posse de uma bola ou a conquista de um berlinde. Ninguém merece.
“Novembrismo”, a doença infantil do radicalismo
Em dezenas ou centenas de vezes, ouvimos pessoas de diferentes quadrantes
políticos dizer que o 25 de Abril é a data primacial. Daqui para a frente,
havia naturais diferenças de interpretação. No essencial, as pessoas
minimamente moderadas, cultas e inteligentes sabiam contextualizar o 25 de
Novembro como uma data importante, mas acessória, clarificadora ou correctora
de Abril. Pelo meio, testemunhas da época como Rodrigo Sousa e Castro foram
esclarecendo que Novembro contou enquanto ajuste de contas entre grupos
militares. Que o derrube de Vasco Gonçalves após o Pronunciamento de Tancos de
Setembro é que eliminou as veleidades revolucionárias da esquerda política e
militar. Que o Grupo dos Nove travou o otelismo e o gonçalvismo para apontar a
direcção do que esses “moderados” definiam como “revolução socialista”
democrática. Que no dia 26 de Novembro a direita musculada foi derrotada ao não
conseguir varrer do mapa o PCP.»
Manuel Carvalho no Público
Legenda: imagem do Record
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