sexta-feira, 28 de novembro de 2025

ERGO UMA ROSA...

Ergo uma rosa, e tudo se ilumina

Como a lua não faz nem o sol pode

Cobra de luz ardente e enroscada

Ou ventos de cabelos que sacode


Ergo uma rosa e grito a quantas aves

O céu pontuam de ninhos e de cantos

Bato no chão a ordem que decide

A união das trevas e dos santos.

 

Ergo uma rosa, um corpo e um destino

Contra o frio da noite que se atreve

E da seiva da rosa e do meu sangue

Construo eternidade em vida breve

 

Ergo uma rosa e deixo e abandono

Quanto me dói de mágoas e assombros

Ergo uma rosa sim e ouço a vida

Neste cantar das aves nos meus ombros.

 

José Saramago em Poemas Possíveis

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