quarta-feira, 23 de abril de 2014

SARAMAGUEANDO


Neste EP, chamado Dulcineia, que é título do poema de José Gomes Ferreira, publicado em 1971, Manuel Freire faz a primeira abordagem a poemas de José Saramago.
O poema escolhido foi Fala do Velho do Restelo ao Astronauta.
Os outros poemas do disco, para os quais, Manuel Freire fez a música são Poema da malta das Naus de António Gedeão e Canção de Eduardo Olímpio.

Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
E pusemos em ti nem eu sei que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal soletramos, de olhos tensos,
Maravilhas de espaço e de vertigem:
Salgados oceanos que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
(E as bombas de napalme são brinquedos),
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome.

Por ocasião dos 25 anos do 25 de Abril, Manuel Freire reuniu, em formato CD, músicas que fez para poemas de José Saramago. Juntou também a música que Luís Cília escreveu para Dia Não.

José Saramago escreveu na contra capa do CD:

Há palavras que atam e há palavras que separam. Estas são das que unem e aconchegam. Por isso, enquanto ele canta, eu vou dizendo baixinho o que escrevi. É uma forma de agradecer.


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