Conheceu Luís Pinheiro de Almeida através do seu blogue «Ié-Ié».
Num dos seus textos lembrava um conjunto italiano dos
anos 60, Andrea Tossi, que tinha vindo a Coimbra tocar na Queima das Fitas de
1961. Ele tinha um disco do Andrea Tossi e propôs oferecê-lo. Pelo meio
lembrava uma frase de Truman Capote que vem em Os Cães Ladram: «Já me aconteceu oferecer um pesa-papéis a
algum amigo muito especial, e dou sempre algum dos que mais aprecio, porque
como disse Colette naquela tarde remota, quando eu protestei que não poderia
aceitar de presente algo que ela tão obviamente adorava: "Meu caro, na
realidade não faz sentido nenhum oferecer um presente a não ser que tenha valor
para nós.»
Então, foi assim:
«Para fazer a entrega de um disco do Andrea
Tosi, marcou encontro com Mr. Ié-Ié.
Foi na esplanada da Mexicana, ali à Praça de Londres.
Aí se conheceram e, pela tarde soalheira de um Janeiro, ficaram a contar
histórias um ao outro.
Quando convidado para colaborar no blogue, argumentou que não sabia nada de
música.
Mr. Ié-Ié, perentoriamente, disse que ele também não.
Pela parte que lhe diz respeito, tem largamente comprovado a afirmação.
No que toca a Mr. Ié-Ié, tratou-se de uma retumbante mentira.
Ainda adiantou que, por falta de meios, teria que fotografar as capas dos
discos, o que se revelava um péssimo número.
Foi-lhe dito que não havia problema nisso.
Mais tarde, por um Natal, a família ofereceu-lhe um scanner e
houve, então, a possibilidade de repor as capas com a dignidade a que têm
direito.»
Luís Pinheiro de Almeida, no livro a que
chamou Viagens no Tempo, reúne as memórias
das viagens que fez enquanto jormalista, homem da rádio.
«Enquanto jornalista, corri o Mundo, fui actor e protagonista de
circunstâncias que só acontecem uma vez na vida de uma pessoa. Estive na ilha
do marechal Tito na Jugoslávia, ainda em sua vida, apertei a mão a Ceausescu,
em Bucareste, estive com Fidel Castro em Guadalajara (México). Diverti-me com
Samora Machel em Maputo, apreciei a sabedoria de Aristides Pereira na Cidade da
Praia, participei nas cerimónias de independência de Angola, com Agostinho Neto
em Luanda, entrevistei Pinto da Costa em São Tomé. Falei com Indira Gandhi em
Nova Deli, conversei com Joseph Luns na sede da NATO em Bruxelas, apertei a mão
de Jimmy Carter na Casa Branca. Passeei com Erico Berlinguer na Setenave,
assisti em Teerão aos últimos momentos do Xá, estive lado a lado com Mubarak no
Cairo. Conheci as “favelas” do Rio de Janeiro e os “ranchitos” de Caracas,
experimentei a loucura do trânsito em Lagos, Nigéria, e em Banguecoque,
Tailândia, encharquei-me nas cataratas do Niagara, sentei-me na sala do
Conselho de Segurança das Nações Unidas. Beijei a mão do Papa João Paulo II, em
Lisboa, estive com Mugabe no Zimbawe. Andei pela cidade das mil e uma noites,
Bagdad, vi o muro de Berlim e a muralha da China, ande num dos helicópteros de
Jivkov na Bulgária. Fui roubado em Goa e Cuba, roubei uma pedra da pirâmide de
Gizé e outra do Coliseu de Rima, tenho água do Jordão, areia do Saará, balas da
Bósnia. Gritei em Delfos (Grécia), fiquei esmagado com Cabora Bassa,
deslumbrei-me em Salzburgo. Vi o perigo na faixa de Gaza, Bósnia, Irão e em
Belfast, gozei belas férias em Antígua, Dubai, Maldivas, Maurícias. Mas há
momentos na vida de uma pessoa que são mais momentos do que outros. Há sonhos
de juventude que cada vez nos parecem mais distantes. Os Beatles são um deles.»
Mais tarde, quando foi à casa do Luís Pinheiro
de Almeida, ficou espantado com a quantidade das mais variadas coisas com que
se deparou em mesas e estantes:
«Eu guardo tudo e mais alguma coisa. Não deito nada fora.»
Nas muitas conversas que foram tendo sobre tudo e mais alguma coisa, Luís Pinheiro de Almeida disse-lhe: «O jornalista é a pior fonte de informação que existe. E acrescento: tudo o que vem nos jornais é mentira até prova em contrário...»
E ainda estávamos um tanto ou quanto longe da
bandalheira que hoje se vive em televisões e jornais.
Quando chegou os tempos do «facebook», o Luís
rendeu-de completamente ao fenómeno, abandonou, 28 de Março de 2022 o blogue dos guedelhudos, e dedicou-se às novas aventuras do «face» em busca de velhas amizades fossem elas
quais fossem.
Ele ficou órfão e acabou por desaguar neste Cais.
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2 comentários:
A propósito de música:
Um dia perguntaram ao José Mário Branco: O que acha da música dos Madredeus? Ao que ele respondeu: Acho bem a música portuguesa também tem direito ao seu Mateus Rosé.
E esta ein?
O livro já o coloquei no «Olhar as Capas» (15 de Abril) mas ainda não o li como gosto de ler, daí ainda não ter chegado à inteligente resposta sobre os «Madre Deus» que o Seve aqui revelou, mas quando a encontrar, entrará directamente em «À Lupa».
Adianto que há algumas coisas dos «Madre Deus» de que gosto.
Do excelente naipe de cantores/compositores que a música portuguesa possui, o José Mário Branco será o mais completo. José Afonso, outros artistas, muito devem ao seu trabalho produtivo, onde podemos colocar os passos de abertura de «Grândola, Vila Morena».
Simplesmente, genial!
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