A história dos negros americanos terá, um dia, o seu fim?
É
uma luta longa do desejo ardente de conseguir uma dignidade. Não pretendem
africanizar a América, nem tornar branca a sua alma, mas saberem ancestralmente
que a cor do sangue não é a cor da pele.
O
saberem que no Vietname, em outras guerras que os americanos espalharam pelo
mundo, morreram mais negros que brancos.
Steve Biko, nasceu na África do Sul, Dezembro de 1946 e, em Setembro de 1977, a polícia matou-o, conduzido a um hospital,
chegou já morto.
Nelson
Mandela disse:«Eles tiveram que matá-lo para prolongar a vida do apartheid».
Frase
dita por Biko, meses antes de ser assassinado.
«Os
brancos têm de ser convencidos de que são apenas humanos, e não superiores. O
mesmo com os negros: têm de ser convencidos de que também são humanos, não
inferiores.»
Podemos
dar as voltas que quisermos, olhar as pontas soltas, disfarçar sombreados, mas
num qualquer final, sentirmos que todos somos racistas.
Jornal do Fundão, 20 de Fevereiro de 1972
No dia 18 de Agosto de 1970, Angela Davis tornou-se a terceira mulher a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI, ao ser acusada de conspiração, sequestro e homicídio, por causa de uma suposta ligação com uma tentativa de fuga do tribunal do Palácio de Justiça do Condado de Marin, em São Francisco.
Com sua prisão
decretada pelo estado da Califórnia e o FBI em seu encalço, Angela fugiu do
estado e desapareceu por dois meses, acabando por ser presa em Nova Iorque. Foi
julgada durante 18 meses, um julgamento que despertou atenções pelo mundo, com manifestações
gritando pela sua absolvição, o que veio a acontecer.
Nesses tempos, acompanhei, pelos jornais, o que a censura
salazarista deixava passar e constituí um Dossier Angela Davis.
Desse Dossier, o último recorte é um artigo publicado no Público de 30 de Setembro de 2023, assinado por Isabel Lucas, com o título «Angela Davis e a pergunta: “Como será a liberdade daqui a 50 anos?”, que agora releio:
«O tom de rebeldia cedeu a uma espécie de
serenidade, a argumentação ganhou mais referências, experiência, testemunhos.
Os cabelos ficaram brancos, mas a vontade de transformar a sociedade, ou de
como ela tantas vezes refere, de "fazer a revolução", persiste. É
como se a mulher de hoje olhasse com alguma condescendência alguns excessos ou
romantismo da mulher das décadas de setenta e oitenta, quando teve a atenção do
mundo a partir do momento em que foi presa. "O que eu considerava
liberdade, enquanto jovem activista, não incluía muitos dos problemas que eu
procuro combater e abordar intelectualmente hoje", diz no documentário —
ou filme-ensaio, como é apresentado — Angela Davis: A World of Greater Freedom,
neste sábado mostrado pela primeira vez em Portugal, às 19h, no Grande
Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa.
Assinado pelo
escritor maliano Manthia Diawara, director do departamento de Estudos
Afro-Americanos na Universidade de Nova Iorque, o filme é uma espécie de
monólogo, ou solilóquio, no qual Angela Davis discorre sobre os assuntos que a
apaixonam quando está quase a completar 80 anos.»
República, 23 de Setembro de 1972 «Quem segue o pensamento de Angela Davis está familiarizado com as principais ideias ali veiculadas e expostas numa teia de raciocínio que reflecte as ramificações sociais e políticas do princípio em que a activista sustenta a sua crítica e que se pode resumir numa frase: a sociedade democrática em que vivemos tem por base o sistema esclavagista. É a partir desta ideia fundamental no seu pensamento que Angela Davis conversa sobre a urgência de transformar o mundo, uma transformação, diz ela, que tem de passar pela extinção de uma das instituições mais marcantes da herança esclavagista presente nas "democracias burguesas" actuais: as prisões.»
«A prisão", enquanto sistema, "incorpora o racismo estrutural da sociedade", afirma em coerência com o que já ouvimos e lemos noutras circunstâncias. Entre elas, em Novembro de 2022: "As instituições de encarceramento são racistas." Dois anos antes, em Junho de 2020, pouco depois de ser pela primeira vez publicada em Portugal com o livro A Liberdade é uma Luta Constante (Antígona), Davis formulara esse pensamento à luz de uma das dimensões que o modela, o ter implícita a ideia de que não se pode acabar com o racismo sem pôr fim a uma série de fenómenos que o alimentam, entre os quais a pobreza ou a falta de acesso à educação. Dizia ela que “acabar com o racismo é acabar com os grandes problemas do mundo”.
«Davis fala sempre do todo, para falar das causas que defende. Aqui, isso fica evidente. Faz um exercício. Por exemplo, pensar “o que significaria construir uma sociedade que já não dependesse nem de prisões nem de polícia”. Tal implicaria, refere, “ter de lidar com todas as outras questões, como educação, saúde, emprego”. E neste contexto, refere o feminismo: “Não é apenas uma questão de género, mas uma questão de estruturas de sociedades que dão azo ao patriarcado e ao heteropatriarcado.”
“É preciso ser crítico em relação ao modo como a democracia se tem materializado ao longo da História e que contempla o racismo.”»



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