Não vim aqui para te dizer que és bela,
creio que
sim, que és bela
mas não se
trata disso.
É que eles
querem que tu estejas morta
Junto às
caveiras de Jackson e de Lumumba.
E Angela, nós
precisamos do
teu sorriso.
Vamos
substituir os muros que o ódio construiu
por claros
muros de ar,
e o tecto da
tua angústia
por um tecto
de nuvens e de pássaros,
e o guarda
que te esconde
por um
arcanjo com a sua espada.
Como se
enganam os teus verdugos! És feita
de um material
ardente e áspero,
de ímpeto
inoxidável,
apto a
permanecer através de sóis e chuvas,
de ventos e
de luas,
sem tecto nem
resguardo.
Pertences
A essa classe
de sonhos em que o tempo
Sempre se
fundiu as suas estátuas
e escreveu as
suas canções.
Angela, não
estou ante o teu nome
para te falar
de amor como um adolescente,
nem para
desejar-te como um sátiro.
Ah, não se
trata disso.
O que eu digo
é que és forte e maleável
para poderes
saltares ao pescoço (e fracturá-lo)
dqueles que
quiseram e ainda querem e hão-de querer sempre
ver-te arder
viva atada ao sul do teu país,
atada a um
poste calcinado,
atada a um
carvalho sem folhagem,
atada a uma
cruz ardendo vivo atada ao Sul
O inimigo é
torpe.
Quer calar a
tua voz com a sua voz,
mas todos nós
sabemos
que a tua voz
é a única que ressoa,
única que se
acende
alta na noite
como uma coluna fulminante,
um clarão
fixo,
um vertical
incêndio abrasador,
um repetido
relâmpago
a cuja luz se
destacam
negros de ardentes
unhas,
povos
enfraquecidos e coléricos,
Sob o sol
real que eu habito
junto dos
milicianos decididos,
na margem
íngreme deste terrível e amigável mar,
vendo
furiosas ondas a quebrarem-se nos escolhos,
grito e faço
a minha voz viajar sobre os ombros
do grande
vento que passa,
vendo, pai
nosso caribeano.
Digo o teu
nome, Angela, vocifero. Junto as mãos
não em rogos,
rezas, súplicas, preces
para que os
teus carcereiros te perdoem,
mas num acto
de aplauso, mão na mão,
duro e forte,
muito forte,
mão na mão
para que saibas que eu sou teu.
Nicolás
Guillén
Tradução de
António Ramos Rosa
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