Nada do Outro Mundo
Antonio Muñoz
Molina
Tradução:
Cristina Rodriguez e Artur Guerra
Capa:
Fernando Mateus sobre fragmento de pintura de Edward Hopper
Relógio d’Água,
Lisboa 1994
Foi ontem que os vi, Juana Rosa e Funes.
Pensei que podiam vigiar a minha casa. Peguei nalguma roupa, no meu computador
portátil e no meu cartão de crédito e fechei-me neste hotel. Na noite passada
não dormi, Também não dormirei esta noite, embora me doam muito as costas e
tenha os olhos vermelhos por causa do brilho do ecrã co computador. Os dedos
movem-se no teclado sem que eu os governe. As palavras surgem no ecrã como se
não as escrevesse. É como caminhar e caminhar numa cidade desconhecida e estar
morto de cansaço e não parar nunca. Morto: também eles estão e não param. Mas
apercebo-me, quase com alívio, de que o fim já não vai demorar. São quatro
horas da madrugada. Há quinze minutos tocou pela primeira vez o telefone.
Voltou a tocar exactamente cada cinco minutos. Detenho-me junto dele e olho,
estendo a mão direita e toco no auscultador sem o levantar. Dentro de dois
minutos voltará a tocar. Interrogo-me se Immaculada também terá vindo com
eles, se vou ouvir a sua voz quando finalmente me render e levantar o telefone e o aproximar do ouvido.
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