segunda-feira, 23 de junho de 2025

O OUTRO LADO DAS CAPAS

Permito-me lembrar que Mário-Henrique  Leiria está bem representado na Biblioteca da Casa, veja-se a etiqueta Mário-Henrique Livros.

A E-Primatur iniciou, em Maio de 2017, a publicação das Obras Completas de Mário-Henrique Leiria constituída por três volumes.

Faltava-me o II volume. Comprei-o ontem no último dia da Feira do Livro deste ano.

A obra completa de Mário-Henrique Leiria tem como responsável Tânia Martuscelli, crítica de literatura e de arte, professora da Universidade do Colorado/Boulder nos Estados Unidos.

Desconhecia que houvesse alguém tão especializado na obra de Mário-Henrique Leiria e o quanto isso o divertiria. Tania Martucelli tem a ideia de que conseguiu reunir todos os textos constantes do espólio do autor e vários outros materiais dispersos.

Mário-Henrique Leiria não se considerava um escritor mas um tipo que escrevia umas coisas quando a veia, aliada a um grande gin-tonic, resolve ser boa companheira.

Depois de 1951 começou a andar de um lado para o outro.

«Teve vários empregos, marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil (não, não era arquitecto, carregava tijolo), etc., pelas terras onde andou: a Europa cristã e ocidental, o Mediterrâneo norte-africano, o Oriente Médio e até, dizem, os países socialistas. Não ia aos Balcãs porque tinha medo, todos lhe diziam que lá os bigodes eram enormes e as bombas estoiravam até no bolso. Um dia teve de passar por lá. Os bigodes eram realmente grandes, mas toda a gente sabia rir. Tirou o casaco e bebeu que se fartou. Em 1958 meteram-se-lhe ideias na cabeça e foi até Inglaterra, para aprender coisas. Não aprendeu e voltou. Entre 1959 e 1961 foi casado e não fez mais nada. Em 1961 foi para a América Latina donde voltou nove anos depois. Por lá conseguiu ser, entre outras actividades menos respeitáveis, planejador de stands para exposições, encenador de teatro e até director literário de uma editora. Fizera progressos»

Quantos papéis, quantos textos, quantos projectos Mário-Henrique Leiria perdeu nestas suas novas-velhas-andanças?

Mas este é o trabalho possível e louve-se a iniciativa.

Claro que o autor já mandou descer mais um gin e está ainda a gargalhar porque ele sempre foi um campeão de perder textos, e textinhos, divertia-se a escrever e a esconder o que escrevia.

Mas repito: Quantos papéis, quantos textos, quantos projectos Mário-Henrique Leiria perdeu por esse mundo fora?

Nova repetição: mas pronto! É o trabalho possível, um trabalho dignificante para a literatura portuguesa e para esse futuro que se não ler o Mário-Henrique não sabe o que perde e tão pouco merce ser futuro.

Acredito que Mário-Henrique Leiria sentirá uma lágrima rebelde aflorar-lhe aos olhos, pedirá mais um gin e agradecerá do fundo do coração. 

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