domingo, 28 de outubro de 2018

NÃO ACRESCENTO RAZÕES DE DESCULPA


António Ramos Rosa era de uma humildade comovedora. Na véspera de Natal do ano de 1962, sabendo que Jorge de Sena iria partir para Luanda, escreve-lhe uma carta a devolver uns livros que Sena lhe emprestara:

Prezado Camarada:

Só hoje lhe pude enviar pelo correio, registado, a última remessa de livros que teve a gentileza de me emprestar. Peço-lhe desculpa de não os ter remetido mais cedo e não os ter entregue, como tinha combinado antes da sua partida para Inglaterra, em fim de Outubro.
Receio também que esta carta assim como a encomenda, caso seja verdadeira a informação que me deram que V. partiria para Luanda precisamente dia 25, não chegue a horas de recebê-la.
Por tudo isto receio que V. esteja justamente melindrado comigo. Não acrescento razões de desculpa, porque sei que V. dispensá-las-á. Apenas lhe peço para que acredite na involuntariedade da minha culpa.
Não tendo mais um minuto para lhe escrever, pois são horas do correio, envio-lhe os meus votos de felicidade e peço-lhe que creia na estima e camaradagem do

António Ramos Rosa


Legenda: António Ramos Rosa

Sem comentários: