quarta-feira, 10 de outubro de 2018

É QUE EU SOU UM GAJO MUITO FRIORENTO


Entramos hoje em mais uma entrevista de Luiz Pacheco que, como as restantes, se encontram antologiadas em O Crocodilo Que Voa.
O enfoque recai na entrevista feita por João Paulo Cotrim e publicada na revista Ler, Verão de 1995.

Na esmagadora da maioria das entrevistas feitas ao Pacheco, lá aparecia a perguntinha de como é que ele se inscrevera no Partido Comunista Português.
As respostas do Pacheco têm variantes mas a base é apenas uma: o funeral do José Carlos Ary dos Santos.

«Pois é, mas eu também só entrei para o partido quando me apareceu uma hérnia. Nessa altura, mandei um recado ao José Casanova: «Psst! Quero entrar para o partido como extrema-unção.» Isto não obriga a nada, nem aqui há uma esperança revolucionária. É porque é giro, um gajo morre e vai lá com a bandeira no caixão. É que eu tinha visto o enterro do Ary dos Santos a subir a Morais Soares, com eles aos gritos – Ary, amigo, o partido está contigo! – e pendei: «Isto é o que me convém, porra! Pagam-me o enterro, pagam-me o caixão e levo a bandeira que me deixa aconchegado. Sabe, é que eu sou um gajo muito friorento.»

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