segunda-feira, 29 de outubro de 2018

OLHAR AS CAPAS


Espião Na Primeira Pessoa

Sam Shepard
Tradução: Salvato Telles de Menezes
Capa: Teresa Reis Gomes
Quetzal Editores, Lisboa, Agosto de 2018

Fizeram-me todos os exames. Lá no meio do deserto. Do deserto pintado. Terra de apaches. Terra de saguaros. Fizeram-me análises ao sangue, é claro. Todos os tipos de análises ao sangue para analisar os meus glóbulos brancos, para analisar os meus glóbulos vermelhos, analisando-os uns em oposição aos outros. Depois fizeram exames à minha espinal medula. Até me fizeram uma punção lombar. Fizeram-me várias ressonâncias magnéticas. Tubos pelos quais era possível olhar para todo o meu corpo para ver se havia qualquer paralisia de ossos e músculos. Amostras, cortes transversais. Raios X. Imagens fantasmáticas. E observaram a deterioração e observaram todo o tipo de coisas e não conseguiram apresentar nenhuma resposta até que apareceu por fim um tipo, creio que era um neurocirurgião, tinha cabelo preto e uma bata branca e óculos, electrochoques de sondagem com uma vara metálica. Injetou-os em ambos os braços e uma corrente eléctrica começou a pulsar e senti esses choques nos meus braços. Foi ele que apresentou a resposta de que havia alguma coisa que não estava bem. E eu disse, bom, eu sei que alguma coisa não está bem. Porque acha que estou aqui? Limitou-se a olhar para mim com uma expressão vazia.
De manhã ia tomar o pequeno-almoço a uma tasca mexicana. Enchiladas. Queijo com ovos. Pimentos verdes.

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