terça-feira, 27 de abril de 2021

ALGUNS DIAS ATÉ MAIO


27 de Abril de 1974.

O terceiro dia da nossa vida em liberdade.

Todos os jornais dão conta das reuniões que vão ocorrendo, no Palácio da Cova da Moura, com a Junta de Salvação Nacional, das manifestações de apoio ao Movimento das Forças Armadas, que vão acontecendo por todo o País.

1.

Mas a ÚNICA notícia é apenas uma:

Após demoradas negociações são libertados os presos políticos que se encontravam no Forte de Peniche e em Caxias. Os presos tinham decidido que ou saiam todos ou não saia nenhum.

2.

Anuncia-se que está prevista para amanhã a chegada a Lisboa de Mário Soares e que os bancos reabrirão na segunda-feira dia 29.

 3.

No topo a 1ª página de A Capital que na sua página 4 noticia que o presidente da assembleia nacional, Engº Amaral Neto cancelou a reunião marcada para este dia e aguarda, apenas, que a Junta de Salvação Nacional decrete a dissolução da assembleia.


4.


Diário Popular dava conta que, em Beja, foi preso pela polícia, um homem que ostentava um cartaz a pedir a extinção da PIDE.


5.

Destaque na página 14 para a reunião que a Conferência Episcopal iniciou, no dia 23, em Fátima, ainda em tempo de ditadura, e que teve o encerramento ontem ao final da tarde.

Os senhores bispos mudaram de agulha e emitem um comunicado em que formulam votos para que os acontecimentos destes dias contribuam para o bem da sociedade portuguesa, na justiça, na reconciliação e no respeito

por todas as pessoas. Apelam para a virtudes cívicas dos católicos e demais portugueses de boa vontade. E rezam a Deus pelo povo de Portugal.

A conferência aproveita para se solidarizar com o Bispo de Nampula, expulso de Moçambique, nos primeiros dias de Abril, pela ditadura.


Essa solidariedade teria sido bem-vinda aquando dos acontecimentos, que também envolveram a expulsão de diversos missionários acusados de atentados e de se oporem à guerra colonial.

Mas apenas um beato silêncio.

Profundo foi também o silêncio que os senhores bispos mantiveram, durante quarenta e oito anos, com um regime que oprimia e perseguia um povo e mantinha em África uma guerra  que matou, estropiou milhares de portugueses e africanos.

6.

O República revelava que no Forte de Caxias estavam presos 228 membros da Ex-PIDE-DGS e que ainda continuavam à solta mais de dois mil agentes.


Oportuna a entrevista que na página 13, do República, o desembargador Rocha Cunha concedeu a Fernando Assis Pacheco.

 Está por fazer a história da participação dos juízes dos Tribunais Plenários.

 Pior ainda o sabermos que, após o 25 de Abril, esses mesmos juízos foram integrados no sistema judicial sem nunca terem sido responsabilizados e julgados. Eles foram protagonistas do aparelho repressivo da ditadura.

 Uma impunidade que há-de estender-se aos agentes da PIDE-DGS e outros servidores do Estado Novo.

 Não por uma questão de vingança, apenas por uma questão de justiça.

 Na sua página de espectáculos o jornal avisava que, por motivos óbvios, não era possível publicar a programação da RTP:


7.

Como os restantes jornais, O Século noticiava o assalto que populares fizeram ao edifício do jornal Época, que não se publicou neste dia, e que obrigou à intervenção de elementos das Forças Armadas.

Face a este incidente, e outros que iam acontecendo, como a invasão das instalações da A.N.P., a Junta de Salvação Nacional emitia um comunicado:


Na página 7,  publicava-se uma fotografia de Eduardo Gageiro  que registava o momento em que um membro da PIDE-DGS era preso.

Esta fotografia correrá mundo.


Também a notícia da morte do poeta Pedro Oom, fulminado por um ataque cardíaco. O poeta que tinha 47 anos, um pouco menos que o regime deposto, e não resistiu à emoção de ver cair a ditadura.



8.

Fotografia na última página do Diário de Lisboa.


No Largo da Misericórdia, o povo largou fogo a um automóvel da PIDE, ontem á tarde. Três agentes transportavam-se nele quando, cerca do meio-dia, foram identificados por populares arrastados para junto do pelourinho do largo e desramados pelo Exército. O povo queria linchá-los, tendo sido contido só a muito custo pelo capitão e pelos poucos soldados que os guardavam.

1 comentário:

- R y k @ r d o - disse...

Eu era ainda muito jovem mas lembro-me muito bem de tudo o que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974 e seguintes.
Eram sorrisos, alegria, esperança de uma nova vida, vivida em LIBERDADE. Gostei muito desta publicação que nos relembra factos ocorridos no após 25 de Abril de 1974.
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Cumprimentos poéticos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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