sexta-feira, 30 de abril de 2021

ALGUNS DIAS ANTES DE MAIO


30 de Abril de 1974 

Amanhã será o primeiro 1º de Maio em liberdade.

Durante a ditadura, o 1º de Maio era um dia que trabalhadores e estudantes estavam impedidos de comemorar.

Mas com coragem e determinação, aqui e ali, sempre encontraram forma de o assinalar, se bem que sujeitos a brutal repressão: pedras e palavras de ordem contra bastões, espingardas, carros-de-combate-lanças-tinta-azul.

A mudança ia acontecendo, lenta, lenta, lenta, mas éramos tão poucos.

E onde estava aquele gente que, no amanhã de há 47 anos, encherá as ruas transformando-as num imenso oceano.

Os jornais de 30 de Abril de 1974, nas suas primeiras páginas, apelavam à serenidade do povo português nas comemorações do 1º de Maio, Dia do Trabalhador.

Na 1ª página do República podia ler-se: Só a disciplina dos Homens Livres destrói a “disciplina” do medo!». Nas páginas centrais uma outra frase: 

«A disciplina é a arma do Povo contra a opressão.»

Na 1ª página do Diário Popular: «O 1º de Maio é teu: conquistaste-o. Não deixes que possíveis provocadores alterem o dia que será uma festa de todos!»

Diário de Lisboa lembrava que, no 1º de Maio, as padarias e os depósitos de pão estavam encerrados: e colocava em título:

COMPRE HOJE O PÃO DE AMANHÃ

Diversas empresas faziam publicar anúncios de que iriam estar encerradas no 1º de Maio.



2.

A Junta de Salvação Nacional veio publicamente salientar que os trabalhadores dos CTT eram alheios a quaisquer diligências, actividades ou intervenção na violação da correspondência. Essa  violação era feita directamente pela PIDE-DGS, que requisitava aos CTT, a correspondência de suspeitos de actividades contra a ditadura.

 3. 

Concretamente em Lisboa, populares continuam a perseguir os pides.

 Aparecem os primeiros desmentidos de quem estava a ser acusado de pertencer à Legião, à PIDE/DGS, ou tinham sido informadores da polícia política.

 Alguns eram acusados, por vizinhos, conhecidos, como mera vingança pessoal.

Começavam, por isso, os desmentidos.

 Este podia ler-se em A Capital:

 «O antigo “boxeur” Licinio Sena deslocou-se à nossa redacção, acompanhado do capitão Nuno Santos Silva do Movimento das Forças Armadas, do seu chefe no Tribunal de Contas, onde trabalha, e do seu filho, para nos declarar que não era agente da Pide.»

 Outros optavam pela publicação, como publicidade paga, de anúncios deste teor:




Sobre este tipo de incidentes, o Diário de Notícias, publicava, na 3ª página, uma local que titulou como: Enganos lamentáveis:

No clima de justa euforia em que actualmente se vive na nossa cidade, um dos principais alvos da população – o que, por vezes, gera alguma violência – tem sido a descoberta de elementos da extinta DGS e ainda não detidos.

Mas, se em muitos casos, se verificou que os indivíduos apanhados eram realmente daquela corporação policial, noutros ocorreram enganos que poderiam tornar-se lamentáveis, se não fosse a intervenção das forças militares.»

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