sexta-feira, 9 de abril de 2021

POESIA DE PAREDE


                  Uma vez exactamente em 1967, em pleno fascismo, à maneira

                  dos «jornais de parede lembrei-me de escrever «poesias de pa-

                  rede», para colar no quarto do meu filho Alexandre.


Alexandre: faz como eu.

Fecha-te nestas quatro paredes,

mas sonha que andas lá por fora

(na terra sem céu)

a matar as sedes

da gente que chora.

 

O moleiro mói melhor a farinha para o pão

no isolamento do moinho,

mas com a condição

 de ouvir bater no coração

o do vizinho.

 

Acredita, Alexandre, que a solidão

é boa para não se estar sozinho

José Gomes Ferreira em APoesia Continua

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