segunda-feira, 12 de abril de 2021

ROSA NOTURNA


Sem flores ou aves ou sequer um reverdecido

galho  entre as sangrentas e decepadas mãos

sepultas em cada fenda das muralhas:

 

entre o asco, os excrementos e a vulcânica

solidão dum deus caído, aqui, onde cada

fruto é uma rubra lâmina de silêncio:

 

onde uma árvore, ou o amor, amaldiçoados

são, e nada sobrevive além destes ásperos

insectos devoradores, fome, ácida morte:

 

aqui, no fundo do nosso despedaçado

coração, aqui, ardente rosa noturna

é que a verde Primavera floresce.


Papiniano Carlos em Cadernos do Meio Dia nº 2, Julho de 1958

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