segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

QUOTIDIANOS


 Noite de sábado, incêndio num prédio na Mouraria.

 Duas mortes e 14 feridos naquele rez-do-chão onde viviam 22 imigrantes asiáticos, um espaço limitadíssimo, quartos improvisados, colchões em cima de paletes.

 É assim que se «vive» nesta cidade onde a respectiva Câmara anda preocupada com o Festival da Juventude, a visita do Papa, porque isso é dá «glamour».

São arrepiantes as fotografias que o Público apresenta, como arrepiantes e trágicas são as palavras dos moradores, seguindo as venturistas pisadas falatórias:

 «Isso é o que há mais por aí, espaços como este. O sítio onde comprei o meu carro, ali ao fundo da rua, foi todo esvaziado e encheram aquilo de colchões para meter lá essa malta».

 «Isto está cada vez pior. E as autoridades fecham os olhos», critica, falando sobre o que diz ser uma situação comum naquela zona da cidade, antes de lamentar que os poderes públicos não encontrem soluções de habitação para «quem é daqui»

 «Casos como o do prédio que ardeu são o que não falta aqui. Normalmente, primeiro vem uma pessoa, aluga uma casa e, atrás dela, começam a vir outras», relata. Habituado a identificar a proveniência do lixo, garante que “existem restaurantes ilegais a funcionar dentro dos prédios”.

 «Isto são esquemas para trazer pessoas, que se servem destes sítios para darem o salto para outros lugares. Isto funciona como a porta da Europa para eles. Vêm sem ter casa ou trabalho. É uma porcaria»

Observa o repórter do Público:

 «É impossível não reparar num discurso com uma linha comum, quase como se em coro, sob o mote “nós e eles”, os estrangeiros.

Arrepiante também o que se lê na caixa de comentários da reportagem do Público.

 Paulo Baldaia no Diário de Notícias:

«Qualquer pesquisa num motor de busca com apenas duas palavras (Chega e imigrantes) nos revela de imediato de que é feito este partido. Não é o que foi dito uma ou outra vez, é um discurso que se repete como estratégia para ganhar votos pelo medo, promovendo um discurso de ódio que pode terminar, como aconteceu agora em Olhão, em violência física. Sem surpresa nenhuma, porque a violência é a marca de água da extrema-direita.»

 Novamente as palavras da Maria Velho da Costa:

 «É o ar do tempo.  Sabemos que este país está cheio de gente de outras  partes e que a maioria vive em estado de alto risco.»

Legenda: fotografia tirada do Público.

1 comentário:

Seve disse...

O que é que se está à espera para imediatamente se enjaular os selvagens de Olhão-o selfies não diz nada?