sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

CONVERSANDO

O que acima se lê, consta da página 18 de Laurentinas de João Pedro Grabato Dias, cujo exacto título é: «uma meditação 21 LAURENTINAS e dois fabulários falhados».

A introdução do livrinho, custou-me 30 escudos, em 1972, numa barraca-alfarrabista que existia na quase entrada do Parque Mayer em Lisboa, pertence a Maria de Lourdes Cortez que é ensaísta e poeta, estudou em Lisboa, onde se licenciou em Filologia Românica na Faculdade de Letras (1956), leccionou no Liceu Pedro Nunes, de Lisboa, e, de volta a Moçambique, no Liceu António Enes e nos Estudos Gerais e Universidade de Lourenço Marques (hoje Maputo) e na Universidade Eduardo Mondlane, do Maputo. Regressou a Lisboa em 1977, ingressando na Universidade de Lisboa. Leccionou também no Centro de Apoio de Faro e em seminários de pós-graduação do King's College. Os seus ensaios, de uma diversidade assinalável – semiologia do barroco literário, em especial o discurso de D. Francisco Manuel de Melo e dos poetas surrealistas; sobre escritores de Moçambique, destacando-se os seus trabalhos sobre o erotismo da escrita de José Craveirinha, João Pedro Grabato Dias e Carneiro Gonçalves; sobre Racine, Robbe-Grillet ou Roland Barthes; a propósito do ensino das línguas-vivas e do português a estrangeiros; prefaciando ou escolhendo o posfácio e a recensão para compreender textos de Jorge de Sena, Martins Garcia, Gastão Cruz, Eugénio Lisboa, Wanda Ramos, Nadine Gordimer, Carlos Poças Falcão ou Laureano Silveira.

O início da introdução de Maria Cortez, é este:

«Nascido em Inhaminga em 1933. Mestiço de Hindustano, celta, judeu e com prováveis avós nos Concheiros de Muge. Parte da infância e adolescência em Santiago da Galapitões, por onde leu muito Hugo, Camilo, Poison do Terrail e S. Cipriano. Herbanário e colector de pedrinhas. Gago mas muito dotado para o fado e para a ociosidade. Funcionou em várias profissões, tais como a pública e a privada, e é actualmente conselheiro para a África Leste do Comptoir d’ Hygiène et Beuaté, no sector de Shampooos. Volta nos anos sessenta à África, muito documentado em Edgar Burro – (ughs!). Acha que a realidade é aqui a sopeira da fissão. Sem vícios, com hábitos simples mas não mesquinhos. Também já esteve em Paris.»

Esta é a «biografia» que João Pedro Grabato Dias fez chegar a nossas mãos. Não que lha tivéssemos pedido, nós que defendemos o primado absoluto da obra e olhamos o texto como a única totalidade significativa.

No entanto,, a «biografia» aí está no tom exacto exigido pelo autor; e também vincadamente significativa, porque em perfeita harmonia com o estilo que as Laurentinas nos entregam.»

 Deixo-vos ainda uma laurentina de Grabato Dias:

 

Necrologia laurentina

 

Só netos eram quarenta

sonetos pr’aí uns vinte

bolotos plantou algum

o patriarca aos oitenta

sabe que bateu no vinte

e é homem como nenhum

 

Tem o pelinho na venta

(digo-o sem nenhum acinte…)

E é filiado na un. 


Tempo ainda para dizer que João Pedro Grabato Dias também é conhecido por António Quadros (pintor).

É com esse nome que aparece uma letra de canção do álbum Eu Vou Ser como a Toupeira, de José Afonso que o «Musicalíssimo», na sua edição de 1 de Dezembro de 1972 referia "Eu Vou ser como a Toupeira" um álbum "simples mas quase genial com canções de simplicidade e muito bom gosto».

É neste álbum que José Afonso deixou «A Morte Saiu à Rua», que evoca o assassínio pela PIDE, do pintor José Dias Coelho, na Rua da Creche em 19 de Dezembro de 1961.

Mas a  canção de António Quadros (pintor) é «Sete Fadas Me Fadaram»:

«Sete fadas me fadaram
Sete irmãos m´arrenegaram
Sete vacas me morreram
Outras sete me mataram

Sete setes desvendei
Sete laranjinhas de oiro
Sete piados de agoiro
Sete coisas que eu cá sei

Sete cabras mancas
Sete bruxas velhas
Seter salamandras
Sete cega-regas

Sete foles
Sete feridas
Sete espadas
Sete dores»

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