segunda-feira, 30 de junho de 2025

À LUPA


 A tarefa fotográfica tinha por finalidade o enquadrar uns barcos colocados no Tejo, não lembro para que acontecimento.

Eduardo Gageiro, a determinado tempo, fez por esquecer os tais barcos e barquinhos  e esgalhou uma das mais brilhantes fotografias que consegue mostrar a solidão do homem de Santa Comba, que, vindo de Coimbra, colocou a vida dos portugueses, durante perto de meio , num inferno.

Salazar passava alguns dias de férias no Forte de Santo António no Estoril onde, por uma manhã de Agosto, caiu de uma cadeira e iniciou o seu fim.

O calista Hilário preparava-se para fazer o seu trabalho e Salazar, com o Diário de Notícias na mão, sentou-se numa cadeira de lona.

Acabou por cair e bater com a cabeça nas pedras da esplanada do Forte.

Manuel Marques, barbeiro de Salazar disse aos jornalistas que Salazar tinha a mania de se sentar atirando-se para cima das cadeiras,

O poeta António Gedeão  contou o episódio aos filhos dos seus netos:

«Costumava o nosso homem, para descansar o corpo, e especialmente o cérebro, do assédio das preocupações da governação, sentar-se, olhando o mar, no isolamento pastosos de uma esplanada do forte de Santo António do Estoril, situado na linha das praias, a pouca distância de Lisboa. Aí, só, irremediavelmente só, aconchegava-se na cadeira de repouso, cerrava as pálpebras e dormitava na paz do Senhor, embalado pelo sussurro das águas.»

Mas a Lupa acabou a deslizar por um dos Bilhetes de Colares de Mr. A. B. Kotter:

«Oh Senhor professor, por amor de Deus, quem passava o verão no Forte em 1940 eram as meninas de Odivelas, indignou-se a fiel Margarida, quebrando a regra sagrada de não falar enquanto se serve à mesa. E, perdida por cem, perdida por mil, acrescentou: «Nessa altura não iam para a praia de maminhas ao léu.»

CANÇÃO DA MANHÃ

Como os estranhos pássaros nascidos em tua boca
como os rios que te correm entre os olhos
como   as   esmeraldas   que   formam   as   asas   dos   teus ombros
como os longos ramos da árvore de sono do teu braço
como o grande espaço em que o teu corpo repousa
deitado na tua própria mão
como a tua sombra idêntica à nuvem
que se encontra no mar

assim é a presença que de ti tenho
nas noites em que o fogo se acende
nas montanhas longínquas e fulgurantes
quando os meus passos me projetam
para os mais elevados cumes solitários
quando o sangue canta
através do aço vibrante do meu corpo
levando-me ao longo do caminho de flores rubras
que tu plantaste

assim é o desejo de te encontrar
nascida nas minhas mãos
erguida como torre de catedral perdida
envolta na minha boca
caminhando comigo
pela estrada que nossos pés abrirão     triunfantes

 

Mário-Henrique Leiria em Poesia

domingo, 29 de junho de 2025

NOTÍCIAS DO CIRCO

António Vitorino: mais uma vez a dona Constança não vai à festança.

O socialista disse não estarem reunidas as condições para uma candidatura e que deve haver apenas um nome da área política a concorrer a Belém, numa altura em que António José Seguro  já avançou e Santos Silva começou a equacionar ser presidenciável.

Vitorino, ao longo dos tempos transformou-se um caso de estudo de oportunidade, de oportunismo.

OLHAR AS CAPAS


Nada do Outro Mundo

Antonio Muñoz Molina

Tradução: Cristina Rodriguez e Artur Guerra

Capa: Fernando Mateus sobre fragmento de pintura de Edward Hopper

Relógio d’Água, Lisboa 1994

Foi ontem que os vi, Juana Rosa e Funes. Pensei que podiam vigiar a minha casa. Peguei nalguma roupa, no meu computador portátil e no meu cartão de crédito e fechei-me neste hotel. Na noite passada não dormi, Também não dormirei esta noite, embora me doam muito as costas e tenha os olhos vermelhos por causa do brilho do ecrã co computador. Os dedos movem-se no teclado sem que eu os governe. As palavras surgem no ecrã como se não as escrevesse. É como caminhar e caminhar numa cidade desconhecida e estar morto de cansaço e não parar nunca. Morto: também eles estão e não param. Mas apercebo-me, quase com alívio, de que o fim já não vai demorar. São quatro horas da madrugada. Há quinze minutos tocou pela primeira vez o telefone. Voltou a tocar exactamente cada cinco minutos. Detenho-me junto dele e olho, estendo a mão direita e toco no auscultador sem o levantar. Dentro de dois minutos voltará a tocar. Interrogo-me se Immaculada também terá vindo com eles, se vou ouvir a sua voz quando finalmente me render e levantar  o  telefone e o aproximar do ouvido.

MÚSICA PELA MANHÃ


Soube-se agora que a lendária actriz norte-americana Kim Novak vai ser homenageada em Setembro na 82.ª edição do Festival de Cinema de Veneza com o Leão de Ouro de Carreira.

«Tendo-se tornado inadvertidamente uma lenda do cinema, Kim Novak foi um dos ícones mais queridos de toda uma era de filmes de Hollywood, desde a estreia auspiciosa em meados da década de 1950 até ao exílio prematuro e voluntário da gaiola dourada de Los Angeles pouco tempo depois”, justificou o director artístico do festival, Alberto Barbera.
Em 1966, Novak abandonou a sua carreira em Hollywood por vontade própria e dedicou-se à pintura.

Uma velha história:

Depois de se apresentar nos Óscares de 2014, muitos - incluindo Donald Trump - insultaram a sua aparência.

Donald Trump foi um desses: "A Kim devia processar o seu cirurgião plástico!", escreveu  no X.

Novak respondeu com uma carta aberta, escrevendo: "Não vou continuar a proibir-me de falar contra os rufias".

Como não podia deixar de ser, Kim Novak tem etiqueta neste Cais, onde poderão reler as magníficas crónicas do Luís Miguel Mira sobre A Mulher Que Viveu Duas vezes.

Também temos Kim Novak com Frank Sinatra em Pal Joey e o João Bénard da Costa a lembrar:

«Sinatra bebia como Sinatra. Rita Hayworth bebia como Rita Hayworth. Entre os dois Kim Novak ainda quer fazer figura de anjinho. Mas quando passa a gostar a sério de Sinatra, as asas caem-lhe. Há uma noite homérica. Acordam os dois de ressaca. Sinatra, por uma vez moralista (e talvez com saudades de Rita Hayworth, resolve perguntar aos botões porque é que as pessoas bebem tanto se no dia seguinte é tão mau. Responde Kim Novak: “É porque é tão bom na noite anterior”. Sinatra fica-lhe no papo.»

E ficamos com duas canções do filme Pal Joey.


sábado, 28 de junho de 2025

NOTÍCIAS DO CIRCO

O ex-diretor executivo do SNS, António Gandra d'Almeida, escolhido pela ministra da saúde no anterior governo, autorizou a majoração do preço/hora pago aos médicos tarefeiros, de 40 euros/hora para 55 euros/hora, mas garante que ele próprio apenas recebeu o correspondente ao trabalho prestado em 2023 na Unidade Local de Saúde da Guarda, não tendo beneficiado da autorização.

Em causa está uma investigação da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde: Gandra d'Almeida autorizou, enquanto DE do SNS, o pagamento superior ao estipulado para serviços médicos que ele próprio prestou na urgência da Guarda, num contrato de 29 mil euros.

Gandra d'Almeida explicou que o despacho "foi validar uma coisa para trás".

"Tratava-se de uma autorização genérica, como tantas outras. Quando assinei, não tive a perceção que me abrangia. Não interferiu, nem recebi mais pelo serviço prestado", garantiu, frisando que o relatório preliminar da IGAS aguarda ainda a sua versão.

MÚSICA PELA MANHÃ


No extracto que apresentámos da homenagem que Helder Macedo prestou a Nuno Júdice, publicada na revista Colóquio-Letras, fala-se de um pássaro capturado numa gaiola que não cantava. 

A ideia encaminhou-nos para a aparição de Francisco Fanhais no Zip-Zip a cantar um poema de Sebastião da Gama.

 

ORFEU ATEP 6325

Fotografia de Augusto Cabrita.

 

Cantilena - Sebastião da Gama/Padre Fanhais

Juventude - João Apolinário/Padre Fanahis

Areia da Praia - Manuel Pina/Padre Fanhais

Canção do Vento - Trecho biblico/Adaptação Pedro Lobo Antunes

Em 1969, um padre, Francisco Fanhais de seu nome, apareceu no Programa Zip-Zip, a cantar a balada Cantilena, com música de sua autoria, para um poema de Sebastião da Gama.

Nesse mesmo ano publica o EP a que dá o seu nome: Padre Fanhais.

Vindo do sector progressista da Igreja Católica, o Padre Fanhais desenvolve trabalho político contra a ditadura. Proíbem-no de cantar, exercer o sacerdócio e dar aulas nas escolas oficiais.

Em 1971 emigra para França e, após o 25 de Abril, regressa a Portugal e passa a colaborar nas Campanhas de Dinamização Cultural do MFA.

 

Cantilena

 

Cortaram as asas

ao rouxinol !

Rouxinol sem asas

não pode voar.

Quebraram-te o bico,

rouxinol !

Rouxinol sem bico

não pode cantar.

 

Que ao menos a Noite

ninguém, rouxinol !

ta queira roubar.

Rouxinol sem Noite

não pode viver...

(Texto publicado em 3 de Abril de 2010)

OLHAR AS CAPAS


Colóquio Letras Nº 219

Lembrança de Nuno Júdice

Diversos autores

Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa Junho de 2025

Em 2008, o ano seguinte à publicação de O Enigma de Salomé, Nuno Júdice publicou um poema intitulado «Para Escrever um Poema». Que começa assim: «o poeta quer escrever sobre um pássaro/ e o pássaro foge-lhe do verso». Depois entram no poema uma flor, uma gaiola feita de palavras onde o pássaro capturado não pode cantar, uma tentadora Eva (ou uma outra Salomé?) que ofereceria a sensual maçã mas que tem medo da serpente. O poeta então desiste. «E quando o poeta pousou a caneta, /o pássaro começou a voar.» E o poema termina: «O poeta voltou a pegar na caneta,/escreve o que tinha visto,/ e o poema ficou feito.» Mas isto também significa que o poema ficou incompleto, como tudo que permanece.

E como esta incompleta homenagem a Nuno Júdice fica feita.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

EM BUSCA DE FLORES AZUIS NO DESERTO


Não há palavras.

Mas o que ainda é mais desesperante e trágico, é não existir, neste mundo, um organismo, o que quer que seja, que faça uma intervenção enérgica que prendesse Benjamim Neta e o enfiasse num calaboiço.

O Público coloca, hoje, na 1ª página que, em Gaza, soldados israelitas denunciam que as autoridades israelitas deram ordenas apara atirar a matar sobre os palestinianos que procuram comida.


«Desde 27 de Maio, quando a Gaza Humanitarian Foundation começou a distribuir ajuda humanitária no centro e Sul da Faixa de Gaza, até meados desta semana, morreram 549 palestinianos e 4066 ficaram feridos enquanto tentavam obter comida junto dos centros de distribuição militarizados suportados pelos Estados Unidos e Israel.
Esta contabilidade feita pelo Ministério da Saúde de Gaza (administrado pelo Hamas) talvez seja mais fácil de perceber com a confirmação dada por oficiais e soldados das Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) ao jornal Haaretz de que têm ordem para disparar sobre as multidões de civis que se aproximam destes locais, mesmo sem sinal de qualquer ameaça evidente.

De acordo com o jornal israelita, vários comandantes ordenaram disparos sobre as multidões, para dispersá-las, naquilo que um soldado descreveu como o colapso total do código ético das IDF em Gaza. “É um campo de morte”, descreveu outro militar. “Onde eu estava estacionado, entre uma e cinco pessoas eram mortas todos os dias. São tratados como forças hostis e não há quaisquer medidas de controlo de multidões, ou gás lacrimogéneo. Só fogo vivo com tudo o que se imagine: metralhadoras pesadas, lançadores de granadas, morteiros. Depois, quando o centro abre, o tiroteio pára e eles sabem que podem aproximar-se. A nossa forma de comunicação são disparos”, descreveu.»

Como é possível que  o simples acto de dar comida a quem tem fome, é se transforma num isco, numa armadilha para israelitas e norte-americano, matar palestinianos?

Que mundo criámos?...

O OUTRO LADO DAS CAPAS

Estamos perante o 8º volume sobre o 25 de Abril de que o Público, desde 25 de Novembro de 2024, no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, anda a publicar, e que terminará com o último volume a sair a 25 de Agosto.

Documentos notáveis que fazem lembrar memórias a uns e ensinam outros para que possam ficar com uma qualquer ideia do que foi essa data histórica.

Histórias e acontecimentos vários da queda do mais antigo regime ditatorial da Europa.

OLHAR AS CAPAS


25 de Abril: Documento

Coordenação:

Afonso Praça

Albertino Antunes

António Amorim

Cesário Borga

Fernando Cascais

Capa: Carlos Rafael

Colecção 25 de Abril Os Dias da Revolução nº 8

CasaViva Editora

Edição fac-simile A Bela e o Monstro/Rapsódia Final/Jornal Público, Lisboa Junho de 2025.

Não se pretende com este livro conseguir mais do que um simples repositório de factos e documentos que caracterizaram o 25 de Abril e os primeiros dias da vida da Junta de Salvação Nacional e de liberdade do povo português. Análises que só poderiam ser imprecisas e precipitadas tão frescos estão ainda os acontecimentos, não se encontram nas páginas que se seguem. Quando muito, apontam-se algumas das mais notórias implicações das medidas já tomadas e do renascer deste País para a democracia. 

A MEMINA DANÇA?


Lembranças do José Duarte, lembrança dos tempos em que havia programas de rádio.

Quando soube da morte do José Duarte, procurei este papel. Não o encontrei. Apareceu agora, quando procurava algo completamente diferente:

«Por um dia, um dia que seja, mande a televisão dar uma curva ao bilhar grande. Sente-se num poltrona e ouça rádio. Aos domingos das dez à meia-noite, na Rádio Comercial, «A Menina Dança?»

Mas é travessa a menina, pois só dança com o José Duarte, para desespero nosso.

Músicas dos anos 30, 40, 50. A música das «big bands», as orquestras dos «Dias da Rádio». Também as canções do Sinatra, como não podia deixar de ser. Músicas ao som das quais apanhei grandes «tampas» que, de imediato, afogava em taças de vinho branco fresquinho a cinco c’roas cada que gelavam dentro dum grande alguidar de zinco, repleto de blocos de gelo, nos bailes de bombeiros da Trafaria. Aquilo é que eram bailes. Com as avós, as mães, as tias, sentadas em cadeiras de madeira, rigorosamennte, vigiando os passes das meninas, as mãos do dançante. Com damas ao bufete e «swing».

Torne-se, pois, diferente em cada noite de domingo, e enquanto os outros vêem televisão, ouça rádio. E dance.

- A MENINA DANÇA», Rádio Comercial, FM Stereo, 97,4, aos domingos, 22,00/24,00 Horas.

P.S.


Final do 2º volume da Obra Completa do Mário-Henrique Leiria, editada pela  E-Primatur,  são  570 páginas de grande literatura portuguesa, que já ninguém lê, já ninguém quer saber!

E não, não encontrámos ninguém como tu. 

E estás a fazer-nos uma falta do caraças!

NAQUELA MESA AO FUNDO DO BAR

Naquela mesa ao fundo do bar, na faculdade

de letras, no tempo em que nada acontecia, fugindo

ao olhar atento dos contínuos, falávamos mais

de política do que de amor, a não ser quando

tu passavas pelas mesas para ir buscar o café e os teus

cabelos lembravam as deusas da antiguidade, com os

ombros nus e o olhar perdido nalgum futuro que

só tu previas. Às vezes, o fumo do tabaco envolvia-te

em uma névoa que lembrava os campos de batalha

e era como se pedisses que nos fôssemos alistar

nos teus sonhos; mas nós queríamos a realidade

das tuas mãos, e não o ideal de que a tua presença

nos afastava, calando as conversas à tua volta e

obrigando os que estudavam a fechar os livros. E

eras tu, nesse tempo em que nada acontecia, que

fazias acontecer o que não se podia confessar:

o desejo que deixavas, à tua passagem, e que

tínhamos de guardar connosco para que, à

nossa volta, ninguém nos acusasse de fugir

à revolução de que os teus cabelos nos distraíam.

 

Nuno Júdice

quinta-feira, 26 de junho de 2025

TRUMPALHADAS


Numa publicação na rede social Truth repleta de elogios a Benjamin Netanyahu - a quem se refere pela alcunha Bibi - Trump afirma ter sido informado que este foi convocado para na segunda-feira continuar  o processo que dura desde Maio de 2020.

"Inédito! Esta é a primeira vez que um primeiro-ministro israelita em exercício vai a julgamento, politicamente motivado para lhe causar grandes danos. Tal CAÇA ÀS BRUXAS, para um homem que deu tanto, é para mim impensável. Ele merece muito mais do que isso, tal como o Estado de Israel", afirma Trump.

"O julgamento de Bibi Netanyahu deveria ser CANCELADO, IMEDIATAMENTE, ou dado um Perdão a um Grande Herói, que tanto fez pelo Estado", frisa.  

Benjamin Netanyahu está a ser julgado em Israel sob acusações de suborno, fraude e abuso de confiança em três casos distintos.

NÃO ENTRES DOCILMENTE NESSA NOITE SERENA

Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.

No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.

Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis ações ter dançado na baia verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E os loucos que colheram e cantaram o vôo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.

Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quanto os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entres docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.

Dylan Thomas

Tradução: Fernando Guimarães

quarta-feira, 25 de junho de 2025

DISTO, DAQUILO E DAQUELOUTRO


Cimeira da NATO em Haia.

Uma enorme palhaçada para adormecer camelos.

Num graxismo nunca visto em acontecimentos deste jaez, o Secretário-Geral da NATO, o incrível Mark Rutte, numa mensagem, possivelmente particular, enredou-se num bajulamento com Donald Trump, que de imediato a tornou pública.

Vergonha das vergonhas!

Mark Rute retratou Trump como o “papá”, pelo seu papel nas negociações para alcançar um cessar-fogo entre o Irão e Israel e Donald comentou que Rutte foi muito carinhoso para com ele.

«Ele gosta de mim, acho que gosta de mim. Se não gostar, eu digo-te: Volto e bato-lhe com força, está bem? Muito afetuoso", disse Trump, em resposta à pergunta de uma jornalista da Sky News, à margem da cimeira da NATO, em Haia.

"Ele fê-lo com muito carinho. Papá, tu és o meu papá", continuou.

Convém recordar que o termo surgiu  porque Trump comparou o Irão e Israel como "dois miúdos no recreio de uma escola", que tinham de ser deixados a "lutar durante dois ou três minutos" para ser "mais fácil pará-los". 

Foi nesta altura que o secretário da NATO interveio para dizer que, depois, "o papá tem de usar linguagem forte para os fazer parar".

"É preciso usar linguagem forte, de vez em quando; é preciso usar uma certa palavra", concordou Trump.

Tudo isto aconteceu mesmo?

Não será um qualquer sketch dos Monty Python?

1.

Maria João Guimarães no Público de hoje:

«Após doze dias de guerra, Israel, EUA e Irão “não cumpriram todos os seus objectivos”
Israel conseguiu uma vitória, mas no país “começam as perguntas”, o mesmo nos EUA. O Irão sofreu uma derrota humilhante, mas o programa nuclear apenas se atrasou, e o regime não caiu.

Foram dias nada menos do que extraordinários, com os primeiros ataques israelitas, a resposta iraniana, a entrada dos EUA na guerra, e ainda um cessar-fogo, anunciado, quebrado, o que fez um Presidente ordenar uma acção a um aliado através de uma rede social. Se muito mudou nesta guerra cheia de acontecimentos “sem precedentes”, houve ainda muito que se manteve. Isso provoca preocupação quanto à longevidade desta calma após a tempestade.»

2.

Marcelo Rebelo de Sousa garantiu que Portugal não teve conhecimento de ataque ao Irão.

3.

«É muito difícil escrever na manhã seguinte a uma declaração de guerra. Kafka escreveu no seu diário, no dia 2 de agosto de 1914: “Hoje a Alemanha declarou guerra à Rússia. De tarde fui nadar”. Kafka não foi indiferente aos acontecimentos e escritos posteriores seus mostram a sua angústia perante a guerra que dilacerava a Europa. Mas o que se pode dizer no início ou na viragem decisiva de uma guerra?

As declarações de guerra, apresentadas formalmente aos governos por embaixadores em trajes de cerimónia, são, porém, coisa do passado. O estado de guerra entre o Irão e Israel existia há muito tempo e o facto novo, mas tão ou mais relevante do que uma declaração de guerra à antiga maneira diplomática, foi a entrada em força dos Estados Unidos nesta guerra.

A Arábia Saudita, que se apressou a condenar o ataque dos seus amigos americanos, e os emiratos do Golfo Pérsico (insisto, Golfo Pérsico) sabem que Teerão e os seus aliados hutis no Iémen têm capacidade para bloquear as suas remessas de petróleo por algum tempo. Esta viragem fundamental (embora previsível) no curso da guerra no Médio Oriente vai obrigar os Estados árabes a mais declarações platónicas de apoio aos palestinianos, que entretanto continuarão a ser massacrados, agora com menos espetadores, porque as atenções estarão viradas para o Irão. Uma boa notícia também para Putin, que se permite declarar, contra todos os tratados que a Rússia assinou, que a Ucrânia é uma parte integrante da Rússia.

Nós não sabemos (e a declaração arrogante de Trump de que a Europa nada tinha que ver com as negociações com o Irão mostra que muitos mais não sabiam) os negócios ou, como prefere dizer Trump, as transações, que terão sido tecidas entre os poderes dominantes, de que a Europa foi excluída, isto é, entre os Estados Unidos, a Rússia e (quem sabe?) a China.

E como nem nós, leitores do Diário de Notícias, nem os dirigentes da nossa Europa (o que é mais grave) estão dentro da verdadeira negociação paralela a esta batalha, encerro esta página, não, como Kafka, declarando a minha intenção de ir nadar (ainda que o tempo hoje esteja bom para essa atividade), mas ocupando os carateres que me restam com o final da crónica que tinha escrito para hoje, sobre a perda das ilusões e a corrida, no final de Os Maias, de Carlos da Maia e João da Ega atrás de um transporte público:

Atrevo-me a pensar que alguns leitores possam sentir-se identificados, lá no fundo de si mesmos, com o estado de perda de ilusões em que este cronista se encontra (ou pretende que se encontra: como o poeta, o cronista é um fingidor). Se assim for, terá valido a pena este exercício de escrita à volta da perda das ilusões. É aliás um belo título de um excelente romance de Balzac, As Ilusões Perdidas, que em muitas ocasiões parece até passar-se nos dias de hoje. Ou o final da Educação Sentimental de Flaubert ou dos Maias do Eça, onde a perda das ilusões é sintetizada numa conversa cínica entre os principais personagens (Flaubert) ou numa cómica corrida atrás de um meio de transporte, a caminho de uma capitosa ceia (Eça). Porque, afinal, perdidas as ilusões, resta-nos só o irrisório exercício da nossa sobrevivência.

A lanterna vermelha do americano, ao longe, no escuro, parara. E foi em Carlos e João da Ega uma esperança, outro esforço:

- Ainda o apanhamos!

- Ainda o apanhamos!»

Luís Filipe Castro Mendes no Diário de Notícias

DE QUE ME SERVIU IR CORRER MUNDO

De que serviu ir correr mundo,
arrastar, de cidade em cidade, um amor
que pesava mais do que mil malas; mostrar
a mil homens o teu nome escrito em mil
alfabetos e uma estampa do teu rosto
que eu julgava feliz? De que me serviu

recusar esses mil homens, e os outros mil
que fizeram de tudo para eu parar, mil
vezes me penteando as pregas do vestido
cansado de viagens, ou dizendo o seu nome
tão bonito em mil línguas que eu nunca
entenderia? Porque era apenas atrás de ti

que eu corria o mundo, era com a tua voz
nos meus ouvidos que eu arrastava o fardo
do amor de cidade em cidade, o teu nome
nos meus lábios de cidade em cidade, o teu
rosto nos meus olhos durante toda a viagem,

mas tu partias sempre na véspera de eu chegar.

Maria do Rosário Pedreira de Nenhum Nome Depois em Poesia Reunida

terça-feira, 24 de junho de 2025

NOTÍCIAS DO CIRCO


 Dizia, ontem, o Dudu, na Esplanada do «Café Faz Falta»:

O circo não presta e o pão já vai faltando. Já sabemos que a infelicidade não é para amanhã, já está aí a bater à porta.

O director de Dermatologia do Hospital de Santa Maria, apresentou a demissão, após terem sido apresentados os resultados preliminares do relatório interno solicitado pelo presidente do Conselho de Administração às cirurgias adicionais, no que diz respeitos aos gastos abusivos praticados por médicos daquela unidade aos fins-de-semana.

Um dermatologista do Hospital de Santa Maria recebeu mais de 400 mil euros por trabalho extra em dez sábado do ano passado. Um outro médico registou a realização de cirurgias em seu nome, que foram feitas por outros médicos. Em 2024, terá ganho 113 mil euros em apenas sete sábados.

Diga-se que estes acontecimentos não têm, basicamente, a ver com o Serviço Nacional de Saúde.

Como outras prestações de outros profissionais de outras áreas, terão a ver com professores, ou polícias, ou qualquer outra profissão.

Terão a ver com gentes sem escrúpulos, sem ponta de profissionalismo, bom senso, ética, cultura, que apenas pensam em dinheiro, dinheiro e mais dinheiro.

Provavelmente, gentes que votam «naquela coisa».

Mas isto é uma especulação pessoal.

REOLHARES



É BOM NÃO ESQUECER!
 
«O auto proclamado Estado Islâmico, um misto de loucos e mercenários e sabe-se lá mais o quê, tomou a cidade de Palmyra, cujas ruínas arqueológicas são património da Humanidade. 

Receia-se o pior.

O caos há muito que está lançado no Médio Oriente.

Umas semanas atrás, Barack Obama enquadrou pela primeira vez o aparecimento e posterior expansão do grupo terrorista Estado Islâmico no contexto das decisões de política externa americana:

«O Estado Islâmico é uma consequência direta da Al-Qaeda no Iraque, que cresceu da nossa invasão. É um exemplo de uma “consequência não-intencional”, razão pela qual devemos geralmente apontar antes de disparar.»

Saddam Husseuin, Khadafy eram o que eram mas mantinham um controlo sobres aqueles territórios.

Todos os que sonhavam com primaveras árabes, com a queda daqueles ditadores, podem agora olhar no que tudo isso deu.

Já antes, Noam Chomsky dissera:

 Toda a gente está preocupada em acabar com o terrorismo. Bem, há uma maneira muito fácil: parem de participar nele.»

(Texto publicado em 24 de Maio de 2015)

O MUNDO NO FIO DA NAVALHA


Donald Trump anunciou às 23h00 de segunda-feira um cessar-fogo entre o Irão e Israel, mediado pelo Qatar, que seria supostamente iniciado seis horas após o anúncio do acordo.

No entanto, Israel foi alvo de mísseis iranianos e Teerão sofreu intensos bombardeamentos durante a madrugada. O presidente dos Estados Unidos disse esta terça-feira na rede Truth Social que o acordo "já estava em vigor" e pediu que "não o violassem".

Que não sejam apenas palavras, palavras, palavras! 

RELAÇÃO DE CASAS BOAS E MÁS PARA JUÍZO DOS ARQUITECTOS CARLOS LOUREIRO E PÁDUA RAMOS

Há casas
cuja beleza começa no projecto;
outras, e são talvez as mais belas,
existem só na cabeça do arquitecto.

Há casas feitas à medida do homem,
outras há para andar de bicicleta;
há casas sobre cascatas
onde ao sortilégio da água
se junta a música de Bach.

Há casas tão ajustadas
como fato por medida
ou um verso de Cesário,
outras de tão confusas
não viram regra nem esquadro.

Há casas de papel, casas de madeira,
casas de palha e de barro;
casas que trepam pelo céu,
casas que cheiram a jasmim do Cabo;
há casas só para dormir
parecidas com um sudário.

Há casas onde
habitar é o começo da morte;
há casas de pátios caiados
com varandas para o mar;
casas onde apetece estar sentado
com um gato nos joelhos
e o coração apaziguado.

Há casas com recantos para amar,
há outras onde o amor
se faz em cinco minutos,
e às vezes já é demais;
há casas como um dedal
e geometria de abelhas,
casas de perfil atento
ao rumor de nascentes e de estrelas.

Há casas como um cristal,
casas de luz circular,
casas onde não é possível
ouvir correr o silêncio; há casas
que de casas só têm o nome;
há casas que nem para cães.

Há casas tão inteligentes
que não consentem qualquer margem
para luxos e arrebiques,
casas onde a alegria se instala
sem tempo nenhum para a mágoa.

Há casas onde o pão é triste
e a roupa mal lavada;
há casas que são um rio, há casas
que são um barco;
outras têm pomares
onde os diospiros ardem;
há casas com terras de vinha e trigo
e muros a toda a roda.

Há casas que são um poema
para dar a um amigo.

Eugénio de Andrade em Poesia

segunda-feira, 23 de junho de 2025

POSTAIS SEM SELO


Mesmo se vivemos rodeados de perguntas, as mais preciosas são, porventura, aquelas que em silêncio nos acompanham desde o princípio, aquelas que se confundem com o que somos, como o espinho no troço da rosa ou como a rosa que, sem sabermos como, floresce no cimo improvável daquela sucessão de espinhos.

José Tolentino Mendonça em O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas

Legenda: imagem tirada de O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas

O OUTRO LADO DAS CAPAS

Permito-me lembrar que Mário-Henrique  Leiria está bem representado na Biblioteca da Casa, veja-se a etiqueta Mário-Henrique Livros.

A E-Primatur iniciou, em Maio de 2017, a publicação das Obras Completas de Mário-Henrique Leiria constituída por três volumes.

Faltava-me o II volume. Comprei-o ontem no último dia da Feira do Livro deste ano.

A obra completa de Mário-Henrique Leiria tem como responsável Tânia Martuscelli, crítica de literatura e de arte, professora da Universidade do Colorado/Boulder nos Estados Unidos.

Desconhecia que houvesse alguém tão especializado na obra de Mário-Henrique Leiria e o quanto isso o divertiria. Tania Martucelli tem a ideia de que conseguiu reunir todos os textos constantes do espólio do autor e vários outros materiais dispersos.

Mário-Henrique Leiria não se considerava um escritor mas um tipo que escrevia umas coisas quando a veia, aliada a um grande gin-tonic, resolve ser boa companheira.

Depois de 1951 começou a andar de um lado para o outro.

«Teve vários empregos, marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil (não, não era arquitecto, carregava tijolo), etc., pelas terras onde andou: a Europa cristã e ocidental, o Mediterrâneo norte-africano, o Oriente Médio e até, dizem, os países socialistas. Não ia aos Balcãs porque tinha medo, todos lhe diziam que lá os bigodes eram enormes e as bombas estoiravam até no bolso. Um dia teve de passar por lá. Os bigodes eram realmente grandes, mas toda a gente sabia rir. Tirou o casaco e bebeu que se fartou. Em 1958 meteram-se-lhe ideias na cabeça e foi até Inglaterra, para aprender coisas. Não aprendeu e voltou. Entre 1959 e 1961 foi casado e não fez mais nada. Em 1961 foi para a América Latina donde voltou nove anos depois. Por lá conseguiu ser, entre outras actividades menos respeitáveis, planejador de stands para exposições, encenador de teatro e até director literário de uma editora. Fizera progressos»

Quantos papéis, quantos textos, quantos projectos Mário-Henrique Leiria perdeu nestas suas novas-velhas-andanças?

Mas este é o trabalho possível e louve-se a iniciativa.

Claro que o autor já mandou descer mais um gin e está ainda a gargalhar porque ele sempre foi um campeão de perder textos, e textinhos, divertia-se a escrever e a esconder o que escrevia.

Mas repito: Quantos papéis, quantos textos, quantos projectos Mário-Henrique Leiria perdeu por esse mundo fora?

Nova repetição: mas pronto! É o trabalho possível, um trabalho dignificante para a literatura portuguesa e para esse futuro que se não ler o Mário-Henrique não sabe o que perde e tão pouco merce ser futuro.

Acredito que Mário-Henrique Leiria sentirá uma lágrima rebelde aflorar-lhe aos olhos, pedirá mais um gin e agradecerá do fundo do coração. 

OLHAR AS CAPAS


Poesia

Mário-Henrique Leiria

Obras Completas Vol. II

Introdução, Organização e Notas: Tania Martuscelli

E-Primatur, Lisboa Maio de 2025

 

Triângulo Kabalístico

 

Eu sei que as túlipas
são os olhos de todos os aviões perdidos

Eu sei que as cidades
são os esqueletos das aves de rapina

Eu sei que os candeeiros ardendo de noite
são os pulmões dos peixes-voadores

Eu sei que o mistério
é uma dentadura abandonada

Eu sei que a loucura
é um braço solitário sorrindo eternamente

Eu sei que os meus olhos
são as tuas pernas frementes

Eu sei que os teus cabelos
são o meu acendedor de pirilampos

Eu sei que a tua boca
é o meu uivo solar

Eu sei que o teu peito e o teu sexo
são a minha água profundamente azul
onde se encontram todos os fantasmas
já perdidos há séculos

DE BOLORENTOS LIVROS RODEADO

De bolorentos livros rodeado

moro, Senhor, nesta fatal cadeira

de quinze invernos a voraz carreira

me tem no mesmo posto sempre achado.

 

Longo tempo em pedir tenho gastado,

e gastarei talvez a vida inteira;

o ponto está em que quem pode queira,

que tudo o mais é trabalhar errado.

 

Príncipe augusto, seja vossa a glória:

fazei que este infeliz ache ventura;

ajuntai mais um facto à vossa história.

 

Mas, se inda aqui me segue a desventura,

cedo ao meu fado, e vou co’a palmatória

cavar num canto da aula a sepultura.

 

Nicolau Tolentino em Sátiras 

domingo, 22 de junho de 2025

À LUPA


«Envergonhar-se e arrepender-se dos erros cometidos é o que se espera de qualquer pessoa bem nascida e de sólida formação moral, e Deus, tendo indiscutivelmente nascido de Si mesmo, está claro que nasceu do melhor que havia no seu tempo. Por estas razões, as de origem e as adquiridas, após ter visto e percebido o que aqui se passa, não teve mais remédio que clamar mea culpa, mea maxima culpa, e reconhecer a excessiva dimensão dos enganos em que tinha caído. É certo que, a seu crédito, e para que isto não seja só um contínuo dizer mal do Criador, subsiste o facto irrespondível de que, quando Deus se decidiu a expulsar do paraíso terreal, por desobediência, o nosso primeiro pai e a nossa primeira mãe, eles, apesar da imprudente falta, iriam ter ao seu dispor a terra toda, para nela suarem e trabalharem à vontade. Contudo, e por desgraça, um outro erro nas previsões divinas não demoraria a manifestar-se, e esse muito mais grave do que tudo quanto até aí havia acontecido.»

José Saramago no livro Terra de Sebastião Salgado

TRUMPALHADAS


Guerras atrás de guerras.

Alguém, mais tarde ou mais cedo, terá que explicar como se desenrola a subserviência que Trump, outros políticos, têm com Benjamim Netanyahu.

Se o mundo já estava perigoso, mais perigoso, nesta madrugada ficou, quando Trump numa jogada de alto risco, acabou de se juntar a Israel no combate ao Irão.

125 aviões militares, entre eles sete bombardeiros B-2, e duas dezenas de mísseis Tomahawk foram a escolha dos EUA para atacarem as instalações nucleares iranianas, a chamada Operação Martelo da Meia-Noite. Mas a "estrela" do ataque terá mesmo sido a GBU-57, a bomba fura-bunkers que terá sido usada contra as instalações subterrâneas de Fordo. Neste ataque cirúrgico, que visou também as centrais nucleares de Natanz e Isfahan os EUA recorreram a 14 bombas GBU-57, lançadas pelos B-2, confirmou este domingo, 22 de junho, o general Dan Caine, numa conferência de imprensa no Pentágono. Esta foi a primeira utilização operacional destas bombas.

Durante a madrugada, o presidente norte-americano, Donald Trump, garantiu, num breve discurso à nação, que as principais instalações nucleares do Irão foram “completa e totalmente destruídas” nestes ataques.