quinta-feira, 24 de maio de 2012

O CHIC(O) DA CULTURA


Em entrevista ao Jornal de Notícias, o secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, afirma-se solidário com as preocupações dos agentes culturais e garante que a nova lei do cinema vai servir os interesses do setor e da cultura portuguesa, e remata: é um exagero falar em fim do cinema português.

José Manuel Costa, sub-director da Cinemateca, em declaração ao Público:

 Neste  momento, a continuação do nosso trabalho, quer ao nível da Cinemateca enquanto arquivo como de sala de cinema em que é dada a conhecer a História do cinema, não está garantida.
Joe Berardo é um estranho personagem que por aí  se passeia, entre tantos outros, a debitar uns disparates sobre isto e aquilo, que tem uma colecção de arte no Centro Cultural de Belém, em que o Estado assume as maiores despesas, que deve 360 milhões à Caixa Geral de Depósitos por um empréstimo que contraíu para comprar acções do BCP, e os bancos terão de assumir prejuízos ou executar contragarantias, entre elas a coleção de arte, que foi proprietário da extinta Gazeta dos Desportos, onde teve como director Francisco José Viegas e que diz ignorar os conhece os motivos de o Secretário de Estado da Cultura não gosta dele.

Não sendo pessoa com quem alguma vez tenha simpatizado, tinha a ideia de que José Francisco Viegas vivia, confortavelmente, com os seus escritos, artigos de opinião na comunicação social, ex-director da Casa Fernando Pessoa, ou ex-director da revista Ler, editada pelo Círculo de Leitores e que o poder seria a última coisa em que pensaria na vida, muito mais sabendo que toda aquela gente do governo e arredores, foge da cultura como o diabo da cruz, ou sacam logo da pistola quando de cultura ouvem falar.

Grosseira interpretação.

A vaidade suplante tudo e mais alguma coisa, género, pai, sou Secretário de Estado da Cultura.
.
Na edição de Inverno da Seara Nova o arquitecto Manuel Augusto Araújo, em artigo de opinião, que intitulou Para Acabar de Vez com a Cultura, começa por afirmar que a cultura sempre foi o parente pobre dos Orçamentos de Estado sem nunca ter alcançado o 1% contumazmente prometido mas factualmente desmentido de imediato.

Escreve Manuel Augusto Araújo:

O cenário mudou para muito pior. Agora afirma-se como paradigmas de uma nova maneira de olhar para a cultura, as práticas culturais. Expõe-se e defende-se essa atitude com uma demagogia que chega a ser obscena, embrulhada em falas mansas que nenhum vício lógico trava, bem ao estilo a que nos habituou Francisco José Viegas, o actual secretário de estado da cultura, homem com um longo percurso de agente cultural. O trabalho que tem desenvolvido nessa área é uma amálgama entre literaturas, críticas gastronómicas sobretudo de sabor regionalista, croniquetas sobre charutos do mais fino recorte, vinhos raros, prazeres da vida, comentários futebolísticos, o blogue de conteúdos todo o terreno, a derrama de opiniões políticas travestido de liberal à moda antiga, quando não passa de um liberalote de meia-tijela pós-moderna. Enfim, tudo o que para ele se pode inscrever na rúbrica dos requintados interesses culturais de uma certa cultura mundana onde esfumam os questionamentos de cultura, que na teoria e na prática, sobressalta e procura transformar a vida.

Parece-me que é suficiente.

Neste ligeiro retrato, residem as dúvidas do director-adjunto da Cinemateca, de quem entende que a cultura é algo de muito importante e não uma mera flor de adorno que se coloca na banda do casaco.

Sem comentários: