quarta-feira, 16 de maio de 2012

OLHAR AS CAPAS


ExpresAura
Carlos Fuentes
Tradução de Pedro Lopes d’Azevedo
Capa Emília Abreu
Publicações Dom Quixote, Lisboa Abril 2001

Aproximarás os teus lábios da cabeça reclinada junto à tua, acariciarás outra vez o cabelo comprido de Aura; agarrarás violentamente a mulher débil pelos ombros, sem ouvir a sua aguda queixa: arrancar-lhe-á a bata de tafetá, abraçá-la-ás, senti-la-ás nua, pequena e perdida no teu abraço, sem forças, não farás caso da sua resistência gemida, do seu choro impotente, beijarás a pele do rosto sem pensar, sem distinguir; tocarás esses seios flácidos quando a luz penetrar suavemente e te surpreender, te obrigar a afastar a cara, procurar a frincha da parede por onde começa a entrar a luz da Lua, esse buraco aberto pelos ratos, esse olho da parede que deixa filtrar a luz prateada que cai sobre o cabelo brando de Aura, sobre o rosto despedaçado, composto por cascas de cebola, pálido, seco e enrugado como uma ameixa seca; afastarás os teus lábios dos lábios sem carne que estiveste beijando, das gengivas sem dentes que se abrem ante ti; verás à luz da Lua o corpo nu da velha, da senhora Consuelo, frouxo, rasgado, pequeno e antigo, tremendo ligeiramente porque tu o tocas, tu ama-lo, tu também regressaste…
Afundarás a tua cabeça, os teus olhos abertos, no cabelo prateado de Consuelo, a mulher que voltará a abraçar-te quando a Lua Passar, facho tapado pelas nuvens, e os oculte a ambos, e transporte no ar, por algum tempo, a recordação da juventude, a recordação encarnada.
- Voltará Felipe, trazê-la-emos juntos.
Deixa-me recuperar forças e fá-la-ei regressar…

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