domingo, 9 de maio de 2021

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 Gosto de livros.

Mas tenho por alguns livros – não são assim tão poucos – uma ternura especial. Um desses livros: Memórias de António Gedeão/Rómulo de Carvalho.

Comprei-o na Feira do Livro de 2011, mas já há muito o namorava nos escaparates das livrarias.

Recordo a história:

«A 81ª Feira do Livro de Lisboa fechou portas no domingo.

A primeira e única visita deu para estoirar, rapidamente, os parcos euros que o orçamento familiar tinha determinado.

Mas tive que voltar. Um livro, que não comprara nessa visita, andou a fazer-me comichão ao ponto de me ter decidido que tinha que acabar com isso e isso só poderia acontecer, indo comprá-lo

Nas livrarias custa 45,00 euros, o preço de feira situava-o nos 36,00 euros. Foi editado pela Fundação Calouste Gulbenkian e são as “Memórias” de Rómulo de Carvalho, mais conhecido por António Gedeão, aquele que disso que havia, há ainda, gente que não sabia que o sonho é uma constante da vida, que o mundo pula e avança.

Um livro lindíssimo, mais de 500 páginas, de alguém, que a escassos 14 dias de morrer, deixou escrito: «A vida nunca me seduziu. Entre o viver e o morrer sempre preferi o morrer. Se não tivesse nascido, ninguém daria pela minha falta. Reconheço que estou a ser indelicado com todos aqueles que gostam de mim, mas peço-lhes que me desculpem.»

 Soube sempre, desde o dia primeiro que o vi nas livrarias, de que não mereceria o ar que respiro, se não o comprasse.»

 Há livros que desejava nunca acabar. Este é um deles. Claro que está sempre à mão de semear. Mas o deslumbramento existe enquanto percorro a primeira leitura, uma leitura lenta como se saboreasse uma aguardente muito velha…

O poema de Gedeão sobre sua mãe, que hoje se publicou, merece uma revisita às suas Memórias:

«Era eu já mais crescido e recordo-me que a Livraria Portugália, no Chiado, defronte do elevador de Santa justa, tinha um serviço de empréstimo de livros ao domicílio, para leitura, a troco de uma pequena mensalidade. A minha mãe fez-se inscrever e deve ter lido tudo quanto figurava no catálogo da livraria, onde se incluíam muitas centenas de obras.

Acredito que minha mãe fosse capaz de construir todas aquelas poesias que atribuiu a comunicações de espíritos e que tivesse capacidade bastante para passar ao papel, de um só jacto.

Bem dizia o João de Deus, numa das suas comunicações mediúnicas, à Rosinha, considerando que os assistentes às sessões espíritas poriam em dúvida a autenticidade dos seus versos:

                                           Se alguém disser, minha amiga,

                                           que  esses versos não são meus,

                                           deixe lá falar quem fala,

                                           Se não forem meus, são seus.»

Entre 20 de Abril de 2017 e 8 de Agosto de 2018 fiz publicar, no Cais, excertos deste extraordinário livro. Por vezes perguntam-me como perco tanto tempo a copiar excertos de livros. Não perco tempo nenhum, estou sempre a ganhar tempo. Acumulo prazeres, utilidades, o que lhe quiserem chamar. Sempre gostei que me falassem de livros, me copiassem algumas páginas, livros que não tenho, gostaria de ter, por vezes encontro-os, outros não.

Gosto de livros.

1 comentário:

Seve disse...

Ó Sammy, quando se fala de livros, este é o mesmo sentimento que eu sinto, igualzinho!