No seguimento
das sessões dedicadas à relação das obras de poetas com o cinema, a Medeia
filmes apresenta, amanhã, às 21h15, uma sessão especial dedicada à relação do
poeta Manuel António pina com o cinema.
As sessões
anteriores foram dedicadas a Herberto Helder e Ruy Belo.
Participará
nesta sessão Inês Fonseca Santos, poeta e autora do ensaio Regressar
a Casa com Manuel António Pina (Ed. Abysmo). As leituras estarão a
cargo de Filipa Leal e Luís Caetano. A encerrar a primeira parte do
programa, será projectada a curta-metragem Asa Casas Não Morrem, de
Inês Fonseca Santos e Pedro Macedo. Na segunda parte veremos, em cópia de 35mm, A
Sombra do Caçadpr de Charles Laughton, “filme da vida” de Manuel António
Pina.
Numa crónica, Livros e Filmes Que Somos, publicada no Jornal de Notícias de 18 de Outubro de 2005, e incluída no livro
Crónica, Saudade da Literatura, Manuel Anónio Pina escreveu assim sobre A
Sombra do Caçador:
Um dia, numa entrevista, perguntaram a Borges: «Quem
é afinal?». «Eu não existo», respondeu Borges. «Eu sou todos os livros que li,
todos os lugares que conheci, todas as pessoas que amei…». Somos feitos de memória.
Mesmo aquilo de nós que não é circunstância individual é apenas memória,
memória genética e memória da espécie. A própria imaginação é uma espécie de
arte combinatória da memória (o Minotauro é um homem e um touro, a sereia uma
mulher e um peixe…)
Se, como Borges, tivéssemos
lido outros livros, ou tivéssemos visto outros filmes, seríamos outros,
verdadeiros desconhecidos. Eu seria outro (alguém muito mais desoladamente
pobre; e não o saberia) sem A Sombra do Caçador, de Charles Laughton. De facto, no meu coração
pulsam desde sempre, como versos soltos, imagens inquietas de A Sombra do
Caçador que se tornaram parte constituinte da minha experiência de mim e dos
outros e da minha experiência vivida do mundo: o ameaçador perfil de Robert
Mitchum a cavalo recortado
contra o céu; o rio turbando-se de súbito ante a presença próxima do Mal;
Lillian Gish protegendo as crianças com a grande espingarda e a sua pequenina
voz cantando na noite contra o medo…
O filme passa hoje e amanhã no
Teatro do Campo Alegre. Infelizmente estou longe do Porto e faltarei, não a um
encontro com a minha infância, mas um inconcluso encontro comigo mesmo.
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