segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

90 ANOS



Júlio Pomar nasceu há 90 anos.

Como toda a gente, sou um bicho carregado de memória. Mas não tenho memória prática – não sei um único número de telefone, perco-me nas ruas, esqueço os detalhes das conversas ou das casas. Mesmo nos retratos que faço de cor: as coisas entram, são caldeadas e o que fica é mais um sentido, uma alusão a, do que uma soma de pormenores. W quando faço passar o modelo, o trabalho mais excitante começa no momento em que sinto a necessidade de apagar, ir desfazer a imagem registada no papel, para deixar agir um poder-elaborante, não directamente consciente.

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