Nunca me puxou
muito o pé para Vergílio Ferreira, nada me levou a passar aquela linha que
conduz aos escritores do meu panteão privado.
O primeiro livro
que li foi Manhã Submersa, adaptado ao cinema por Lauro António, e,
tanto o livro como o filme, são interessantes.
Deixei a meio
três livros; Nítido Nulo, Rápida a Sombra, Cântico
Final.
Quanto a Para
Sempre há quem considere o seu melhor romance e há quem não hesite em
rotulá-lo de obra-prima.
Não desgostei.
Não lembro bem,
mas o desencanto com Vergílio Ferreira, o ter deixado livros a meio, nem outros
sequer ter começado, terá a ver com a má ideia que tive em comprar – e ler
os dois primeiros volumes de Conta-Corrente.
Ainda passei os
olhos pelo 3º e 4º volumes mas não fui mais além.
Azar meu e,
possivelmente, do Vergílio Ferreira.
Fiquei com
pouca, ou nenhuma, vontade de voltar a Vergílio Ferreira.
Comprei,
recentemente, Vagão J, quando o Público publicou
alguns livros proibidos pela ditadura e irei lê-lo, porque é tempo em que
Vergílio Ferreira percorreu caminhos do neo-realismo – já dentro
do neo-realismo aspirava a coisas diferentes.
Mário Ventura,
que com Vergílio Ferreira conversou, pergunta-lhe seConta-Corrente não
é um ajuste de contas, ao mesmo tempo que lhe diz que o livro causou imensas
reacções de desagrado, porventura até em amigos seus.
O autor responde
que as reacções eram esperadas e não me preocupam muito e
supõe mesmo que a pessoa mais maltratada acaba por ser ele.
As pessoas leram-me muito mais este Diário do que me
leram os romances, ainda da
conversa com Mário Ventura.
Logo a abrir o
seu Conta-Corrente, começou a escrevê-lo, poucos dias depois de ter
feito 53 anos, confessa:
A verdade é que, quando me encontro bem pela frente
reconheço-me intragável. Mas enfim as virtudes são também desgostantes. De
resto, sou pouco abonado. Segundo a Regina, as virtudes que tenho têm mesmo
raízes viciosas: tolerância por fraqueza, interesse pela arte, por vaidade e
coisas assim.
Os volumes de Conta-Corrente são
uma inutilidade.
Como Vergílio Ferreira
é incapaz de escrever mal, resulta que estes volumes mais não são do que um
desfiar de pequenas vinganças, má-língua, amargos de boca e de alma, bocados
soltos que permitem concluir que o autor sempre teve a mania da perseguição.
A páginas 233 do
3º volume, recorda uma conversa ao pé da orelha com Óscar Lopes:
Que mania que V. tem da perseguição.
No fundo, sempre
teve a obsessão de que todos diziam mal dele, o subalternizavam, ou a mágoa
oculta de não ser nada para ninguém porque ninguém o referia.
É essa mágoa que
a páginas 252 desse mesmo 3º volume, a 16 de Fevereiro de 1981, o leva a
escrever:
Não, não. Agora é a sério. Vou decidir de uma vez para
sempre que sou um grande escritor. Estar à espera de que mo digam é uma
estupidez. Como é que eles mo podem dizer, se não têm grandeza que o entenda?
Vou decidir de uma vez para sempre por mim.
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