Gosto de tascas.
Fujo a sete pés de restaurantes a armar ao pingarelho.
Gosto de comida a saber a comida e não essas paneleirices
a que chamam nouvelle cuisine.
Por exemplo:
O que é um caldo verde
com esfericação de chouriço e couve frita?
É gozar com o pagode.
Mas há pagode que dá o rabinho por estes disparates.
Há dias fechou uma das boas tascas de Lisboa, o Palmeira.
Nas Escadinhas do Duque havia a Casa Transmontana.
Penso que ainda tem portas abertas mas, segundo me
disseram há tempos idos, com outras comidas e outras frequências.
A Transmontana era poiso de escritores e jornalistas.
Entrava-se e podíamos encontrar o Afonso Praça, o
Fernando Assis Pacheco que, então, trabalhavam
no República, o Eduardo Guerra Carneiro
que ia lá pelas alheiras e as batatas às rodelas.
Também o José Cardoso Pires.
Tudo gente morta.
A última vez que o vi por lá, o José Cardoso Pires comia
uma morcela com grelos, acompanhada de meia garrafinha de Dão, que não acabou
porque entretanto desceu o whisquinho da ordem.
Não sei em que tempo esta fotografia foi tirada, mas terá
sido o tempo-hiato entre o que tinha sido e o que a seguir veio e que não sei
dizer o que é.
Talvez as pernas, quando umas lágrimas de sol romperem os
dias cinzentos, se encaminhem até lá.
E, nas Escadinhas do Duque, ainda existirá o Solar dos Galegos, onde bebia, com os
tipógrafos do República, penaltis de vinho
tinto a acompanhar rodelas de chouriço.
E aquela maravilhosa tasca esquina da Rua da Trindade com
o Largo do mesmo nome, antes da Livraria e do Expreso-Bar e de que, nesta fotografia se vislumbra a porta?
E aquela capelista-vende-tudo na esquina antes de se
descer as ditas escadinhas por onde passava o Duque de Cadaval?
Fotografias tiradas no mesmo dia-sem-data da Casa Transmontana.
Passos velhos de uma certa Lisboa.
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