Maria Ondina Braga faz parte do enorme lote de escritores caídos no quase (?) completo
esquecimento.
Numa entrevista,
de cortar o coração, dada à revista Ler (Outubro de 1990) lamentava-se o
quanto era maltratada pelos editores.
Atente-se:
O meu primeiro livro Eu Vim Para Ver a Terra foi um livro que me trouxe grande desgosto:
saiu cheio de cortes e gralhas, o editor não me deu para revisão, os caracteres
chineses apareceram até ao contrário!
Traduzi durante mais de dezanove anos, quase vinte, e
hoje, ao lembrar-me disso, espanto-me. Traduções que me pagavam um ano e dois
anos depois de as ter entregado, que, às vezes, uma editora (pelo menos) não me
quis pagar. Isto já sem falar do pouquíssimo que pagavam todas. E não recebia
nenhuma percentagem nas edições frequentemente sucessivas, nem quando o editor
vendia o livro a uma organização editorial.
A minha sorte tem sido bem fraca: editores que não
pagam os direitos de autor ou pagam apenas uma mínima parte, não dão à
Sociedade Portuguesa de Autores a relação dos livros existentes, houve um que
fez edições piratas a há depois os que abrem falência, o autor fica separado da
sua obra, como aconteceu com a editora dos meus dois últimos livros, não pagou,
o caso foi para contenciosos da SPA, que, por sua vez, também nada resolve.
Nunca tive um editor que se empenhasse na promoção da minha obra e, como me não
dão prémios, espanto-me até se la se vender.
Depois desta
triste e lamentável atitude dos editores para com os seus autores, perguntaram
a Maria Ondina Braga das razões de escrever:
Difícil para mim dizer a razão por que escrevo. Talvez
porque espiritualmente isso me compensa um pouco da absurdidade da vida. O
certo é que, se no princípio da minha carreira me fosse possível avaliar o
preço por que ela me ia ficar, outra eu não escolheria. Através da escrita
tenho conhecido gente agradável e de valor e tenho tido bons momentos. Eu
propriamente não escolhi ser escritora. Quando em 1963, em Macau, escrevi Estátua de Sal, pensava lá em publicar um
dia esse livro! Nada comigo nunca foi premeditado ou programado. Escrevo como
vivo, à mercê das horas e dos dias, à mercê de mim mesma. E isto já é
compensador.
Maria Ondina Braga morreu a 14 de Março de 2003.
Legenda: Busto
de Maria Ondina Braga, na Avenida Central em Braga.
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