Nasci na Mestre
António Martins, uma rua situada entre a Avenida General Roçadas e a Rua da Penha
de França.
Num espaço
abrangente,havia uma larga mão cheia de cinemas: o Royal, o Cine-Oriente,
o Max, o Imperial, o Lys, o Rex,
Todos cinemas de
reprise, salas populares, com preços acessíveis, direito a ver dois filmes.
O Império
era um outro luxo perto das tais avenidas que Salazar pretendia novas para
esconder as misérias de outras ruas da cidade.
Cinema de
estreia praticava preços acima das posses da malta do bairro.
Só em dias de
festa se ia ao Império.
E os dias de
festa eram escassissimos.
Mais tarde
frequentei-o assiduamente.
Não só pelas
estreias que iam acontecendo, também pelas Terças-Feiras Clássicas, e para ver
as peças de Teatro que ali foram representadas pelo Teatro Moderno de
Lisboa.
Já não falo dos
filmes vistos no Estúdio, sala situada no último piso do edifício, com
uma soberba vista para a Alameda D. Afonso Henriques, e inaugurada a 29 de
Outubro de 1964 com o belíssimo Os Chapéus de Cherburgo.
Do Teatro
Moderno de Lisboa, como do Estúdio, haverá, por um destes dias, outras
conversas.
Ainda do Cinema
Império recordo: juntava-me à concentração na Alameda, para o festejar do
primeiro 1º de Maio, quando olho a fachada do Império e vejo cartaz de O Couraçado de Potemkin.
Jorge Silva Melo,
também, cita o pormenor no seu Século Passado:
…é um passeio vazio, sem gente nenhuma a estas horas,
nem a sombra da multidão que naquele distante 1º de Maio de 1974 ali descia,
pelas três da tarde, e via içarem no Império o cartaz d’ O Couraçado de
Potemkin, imagem que não esqueço, vitória, dia de sol e voz clara, tanta gente
sem medo e tão feliz.
O Cinema Império começou a ser construído
em 1947, concluído em 1952 e inaugurado em 1955, sendo um projecto de Cassiano
Branco.
À entrada, um
painel de azulejos de João Fragoso e nos foyer do 1º e 2º Balcão um mural de
Luís Dourdil (1º balcão) e pinturas de Frederico George.
Como os cinemas
também se abatem, fecharam portas os cinemas de bairro, os velhos «piolhos»,
onde tanta gente agarrou o gosto pelo cinema.
O mesmo
aconteceu ao Império.
As salas de
cinema que começaram a surgir nos Centros Comerciais desviaram espectadores e
salas, como o Império, passaram a ter os dias contados.
Fechou portas no
dia 31 de Dezembro de 1983 e em 1992 o Império passou a ser palco e circo
de uma seita-dita-religiosa.
Ainda por lá se
encontram.
A seita tentou encerrar
o Café Império, de que são proprietários porque compraram todo o edifício,
mas movimentações dos trabalhadores e clientes, com o forte apoio da Câmara
Municipal, impediram mais um crime-de-lesa-pátria.
O Cinema
Império foi inaugurado a 24 de Maio de 1952.
Margarida
Acciaiuoli, no seu livro Cinemas de Lisboa, coloca o Império,
juntamente com o São Jorge e o Monumental, no capítulo: As
Grandes Catedrais.
O filme de
estreia foi O Preço da Juventude.
No programa de
estreia, as sessões começavam com a exibição de um Jornal de Actualidades,
o documentário Madrid eseguia-se um intervalo.
Um outro intervalo acontecia a meio da
exibição do filme.
Os intervalos eram
local de encontro e convívio no agradável conforto dos foyers do Cinema.
No topo, reproduz-se
a capa do 1º Programa do Cinema Império.
E esta é a
apresentação pública:
Legenda:
O programa da
inauguração do Cinema Império pertence ao acervo cinematográfico de Luís
Miguel Mira.
A fotografia do
cartaz do Couraçado Potemkim, na fachada do Império, foi tirada do blogue À Pala de Walsh.
Sem comentários:
Enviar um comentário