as janelas abertas são muito importantes
pelo menos simbolicamente. o
tamanho das janelas é variável. têm
a propriedade de nos deixar ver a rua
quando estamos doentes ou chove muito
e não queremos sair. sustêm os seios das
mulheres.
vou contar uma história de janelas: era pelo
verão e eu acabava de vir da novena com a
minha
criada. eu tinha os meus treze anos. então
ela ia para a janela namorar.
e enquanto namorava eu escondido por trás
metia-lhe a mão pelas pernas. tirava-
-lhe as cuecas. beijava-a toda até ao
parapeito.
e despia-me todo e era muito feliz e ela
agarrava-me por baixo também. o namorado
chegava a dizer
para ela descer a escada. tudo por causa
da conversa que ela arranjava e dos gemidos
que dava. às vezes ia-se embora muito triste
e os dois todos molhados fechávamos a janela
com um até amanhã à noite. as janelas
abertas são muito importantes. a gente
vê passar as procissões. os carros. tenho
recordações de janelas que só eu sei. até
uma vez parti os vidros duma. nunca namorei
à janela. é muito importante. as
janelas fazem-me lembrar olhos. e traições.
José-Alberto
Marques em Estórias de Coisas, 1ª edição Contraponto 1971, 2ª edição Bonecos
Rebeldes, Maio de 2008.
Poema colocado por Nicolau Santos na sua
página Cem Por Cento, Expresso 18 de Junho de 2016.
Legenda: pintura de Diane Romanello
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