Houve uma altura em que pensava que escrevia
para mim mesmo. Mas ninguém escreve para si mesmo, agora tenho a certeza
absoluta. Mesmo que seja discreta, a escrita nunca é secreta; e mesmo se for
secreta, nunca é feita só para si mesmo, há sempre um leitor a espreitar por
cima do ombro. O próprio facto de se escrever, significa que há um leitor
potencial. O Barthes falava da "familariedade social do poeta". O
facto de se escrever numa língua, já implica um leitor algures, implica a
leitura. Se fosse para nós mesmos, nem se escrevia, ou escrevíamos numa língua
secreta. Mas Os Papéis de K não
o fiz com intenção de publicação, sequer... Às vezes escreve-se só para ver,
para ver no que dá. E foi a Ilda David, o livro até lhe é dedicado, que achou
que se devia publicar aquilo. Tem muita ficção, mas tem muitas coisas
verdadeiras, também, das minhas memórias.
Manuel
António Pina
Legenda:
pormenor da capa de Os Papéis de K.
sob uma pintura de Ilda David
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