Coração das Trevas e No Extremo Limite
Joseph Conrad
Tradução:
Margarida Periquito
Capa: Carlos
César Vasconcelos
Relógio d’Água
Editores, Lisboa, Janeiro de 2012
Todavia, como estão a ver, não fui fazer
companhia a Kurtz nessa hora. Pois não. Fiquei cá, para sonhar o pesadelo até
ao fim e para mostrar a minha lealdade a Kurtz uma vez mais. Era o destino! O
meu destino! Que coisa engraçada é a vida, essa misteriosa trama de lógica
implacável para se alcançar um objectivo vão. O mais que se pode esperar dela é
um certo conhecimento de nós próprios – que chega demasiado tarde -, e uma
safra de inesgotáveis desilusões. Lutei com a
morte. É a batalha menos empolgante que se possa imaginar. Desenrola-se
numa atmosfera cinzenta impalpável, sem nada debaixo dos pés e nada à nossa
volta, sem espectadores, sem clamor, sem glória, sem o grande desejo de vencer,
sem o grande receio da derrota, num clima doentio de tíbio ceticismo, sem
grande convicção na nossa razão e ainda menos da do nosso adversário. Se é
dessa forma que o derradeiro ato de introspecção ocorre, então a vida é um enigma
maior do que alguns pensam. A última oportunidade de me pronunciar esteve por
um fio, e concluí, humilhado, que provavelmente não teria nada para dizer. É
por isso que afirmo que Kurtz era um homem notável. Ele tinha alguma coisa para
dizer. E disse-a.
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