sábado, 9 de julho de 2016

UM PAÍS À CUSTA DA OUTRA PARTE NÃO TER UM PAÍS


Escrevo de Jerusalém, onde uma parte das pessoas tem um país à custa da outra parte não ter um país, e nisto terem passado décadas, sem que o mundo, incluindo a UE, tenha feito algo decisivo. E à volta de Jerusalém só piora, mal se entra na Cisjordânia, e sobretudo em Gaza, onde é difícil entrar, e de onde sobretudo ninguém sai. Não conheço outro lugar do mundo onde tanta gente esteja presa há tanto tempo. Só a existência de Gaza devia ser a mais antiga vergonha da UE, ingleses e franceses à cabeça, como ex-colonizadores. Quem tem espaço para Gaza quando a UE está ocupada com a própria sobrevivência? Faz bem em estar, mas, se quero que a UE sobreviva para melhor, é também para que Gaza seja um assunto da UE: porque é um assunto da UE. Todos os palestinianos que conheço querem um país para deixarem de ser de país nenhum. Há uma diferença entre ser de país nenhum e ser do mundo. É a diferença entre a morte a vida, entre estar subjugado e poder decidir. A melhor razão para um país existir é que ninguém nasça reduzido a ser de país nenhum. Os meus grandes amigos palestinianos são uma família de Gaza, pai, mãe, três filhas, vi-as crescer. A única coisa que querem é: sair para o mundo.


Alexandra Lucas Coelho, Público 3 de Julho de 2016

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