sábado, 15 de outubro de 2011

CENTENÁRIO DE MANUEL DA FONSECA


Escreveu um dos mais bonitos começos de livros que conheço – “Antigamente, o Largo era o centro do mundo.” – escreveu umas boas mãos cheias de poemas de que gosto muito, escreveu dois livros que marcam a Literatura Portuguesa, “Cerromaior”, “Seara de Vento”, aquele grito que obrigou a levantar cabeças, o grito de Amanda Carrusca no alto do cerro, junto da orla das estevas:“Digam à minha neta! Digam-lhe que ela tem razão! Um homem só não vale nada!, o resto foi uma vida empenhada,  fazia parte da Direcção da Sociedade Portuguesa de Escritores que atribuiu o prémio a Luandino Vieira e que levou a ditadura a extingui-la, mais alguns livros, aparecidos para arredondar o magro ordenado, “ganhar o pão de cada dia, tudo tarefas medíocres, sem jeito”, Manuel da Fonseca, alentejano de Santiago do Cacém onde nasceu faz hoje 100 anos, um excelente contador de histórias, meio boémio, meio filósofo, meio ocioso – Baptista-Bastos tem a opinião que só o ócio é favorável à cultura –  sou uma espécie de vagabundo, não tenho a noção do tempo mas, acima de tudo, um excelente contador de histórias, o maior escritor do neo-realismo português, mas Augusto Abelaira deixou claro que essa é uma opinião subjectiva e que é suficiente dizer que estamos perante, sem mais nem menos, um grande escritor.

Muito boa gente não leu Manuel da Fonseca, outra, uma enorme quantidade, nem sequer sabe quem ele é.

 Homem de uma grande coerência, gostava de dizer que realizou os seus sonhos sonhando-os, tinha 82 anos quando, a 11 de Março de 1993,  nos deixou e, numa entrevista a Clara Ferreira Alves, deixou dito:

Na Arrentela tive outro dia um momento que me tocou. Ia a passar e de repente vi uma lápide a dizer “Rua Maria Lamas”. Ao pé da minha casa já há a “Rua Ary dos Santos” e vejo o começo de uma “Avenida Carlos de Oliveira”. É um momento de grande emoção e de revolta total. Eles não são ruas, são amigos, são camaradas, Ser rua é uma forma anónima de ficar nas letras. Um dia acabamos todos em ruas e o que devíamos era ser lidos.

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