sábado, 22 de outubro de 2011

À CONVERSA...


Perguntaram-lhe

Houve um momento em que alguns pensaram que seríamos tocados, contagiados. Porque ficámos incólumes?

Respondeu:

É o famoso cepticismo. O cepticismo, a ironia e a desistência. Foram-nos metendo na cabeça de que não podemos ser mais e que mesmo aquilo que somos foi pecado. Agora teremos anos em que vamos expiar termos comido um bife do lombo, em vez de um panadinho de frango. Vamos expiar todos os prazeres que fomos tendo. Até sermos condicionados à morte mais rápida e ao trabalho mais produtivo. É isso que estamos a aceitar, que é o que me insurge mais! A pouco e pouco as pessoas dizem: pois é, não temos outro remédio, agora que temos que fazer espectáculos com menos dinheiro, e agora com menos público, e agora menos espectáculos, e agora… já não há… E aceitamos. Essa desistência corresponde ao mesmo cinismo chamado pós-moderno que diz que tudo o resto são grandes ilusões, que não vale a pena. E não vejo ninguém a quem possa dizer: Vamos lutar contra isto!

Jorge Silva Melo, entrevista ao Público 14 de Agosto de 2011

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