segunda-feira, 31 de outubro de 2011

VENCER COM AS ARMAS QUE TEMOS NA MÃO


Pelo findar de Outubro regressamos ao Verão Quente de 1975.

Os tais tempos de brasa que José Cardoso Pires, assim desenhou: a gente adormecia, pode dizer-se em economia burguesia e quando acordava estava nacionalizado… Verdade: a partir do 25 de Abril passámos a viver mais numa hora do que num mês de fascismo.

Novembro está à porta e serão 25 os dias que, há 36 anos, nos separavam do primeiro grande revés que a nossa esperança sofreu.

Nunca mais a recuperámos.

O país assiste a uma onda de manifestações e contra-manifestações que mostram as diferentes sensibilidades político-partidárias em confronto.

A 23 de Outubro, em Lisboa, uma manifestação unitária de soldados, marinheiros, trabalhadores, reivindicava o poder popular.

A cabeça da manifestação arrancou do Marquês de Pombal, foi engrossando pelo caminho, e chegou ao Terreiro do Paço uma hora depois.

Gritava-se:

O Povo não quer fascistas no poder., Soldados e marinheiros sempre ao lado do povo.

Cantava-se:

 Venceremos com as armas que temos na mão.

A 25 de Outubro realizava-se no Porto uma manifestação convocada por forças democráticas. Presentes o PPD e, o PS, o CDS.

Segundo a reportagem do Jornal de Notícias Sá Carneiro e o Chefe do Estado Maior do Exército, desentenderam-se. Nos bastidores. Sá Carneiro disse a Fabião que ele vinha a atacar a social-democracia. O comandante Guerreiro assistia à conversa e disse: Mas o MFA fez a opção pelo socialismo!..

Sá Carneiro retorquiu que a social-democracia se integrava no socialismo.

A 29 de Outubro em Lisboa realiza-se em Lisboa uma reunião do Conselho Mundial da Paz. Presente esteve Carlos Altamirano, secretário-geral do partido Socialista do Chile, a viver na clandestinidade:

Em conversa com os jornalistas Altamirano abordou a situação que se vivia no Chile com a ditadura de Pinochet..

Em sua opinião no Chile viveu-se aquilo que Salvador Allende chamou um Vietname silencioso. A burguesia fazia boicote económico e sabotagem contra as conquistas populares.

As mulheres burguesas chegaram a desfilar pelas ruas, batendo em tachos e panelas e gritando que tinham fome. Isto foi perfeitamente ridículo, pois durante mais de cem anos foram elas, em todo o Chile, as únicas que comeram.
Quando se deu o golpe, o nosso povo estava lamentavelmente desramado. Nessas condições, as Forças Armadas, massacraram, pelo menos, trinta mil trabalhadores.
Quando lhe convém, a burguesia pede ajuda ao Exército, pretende servir-se dele, transformá-lo numa máquina de repressão. Quando as forças armadas são na sua maioria progressistas, a burguesia pretende que regresse aos quartéis e se mantenha neutral.

Perguntaram-lhe:

Portugal será o Chile da Europa?

Respondeu:

Embora seja difícil encontrar totais semelhanças entre dois processos revolucionários, tanto ontem no Chile como hoje em Portugal, as forças reaccionárias mundiais lideradas pelo imperialismo ianque, procuraram e procuram bloquear o processo revolucionário. No Chile a burguesia opôs-se a que se armasse o povo. No entanto ela armava grupos nos países limítrofes prontos a intervirem. Ao mesmo tempo defendia o carácter profissional do Exército.

Para a burguesia a democracia só vale quando lhe assegura a manutenção dos monopólios e da exploração.

Rodrigues da Silva em artigo publicado no Diário Popular de 24 de Outubro:

A criação de um Exército profissional, (1) inventado para substituir o Exército tradicional minado de dentro pela luta de classes e pela organização autónoma dos soldados, é a prova provada de que a burguesia não abdica de ter ao seu dispor o poder das armas, mesmo que para isso tenha que inventar leis que revoguem as que ela própria criou e que espezinha quando deixam de lhe servir. É a prova provada que a burguesia, também ela, sabe que o poder está no cano das espingardas. Compete ao povo lutar para que essas espingardas estejam sempre, sempre ao seu lado, se não quer ver as suas conquistas afogadas num banho de sangue e o processo revolucionário português voltar irremediavelmente para trás.


(1)   – Referência à criação do AMI (Agrupamento Militar de Intervenção).


Legenda. Título do Republica de 29 de Outubro de 1975.

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