segunda-feira, 4 de agosto de 2014

EM AGOSTO DE 2012...


… a revista Caras reportava que Ricardo Salgado dizia-se impossibilitado de desligar completamente do mundo e era um homem preocupado.


Em Agosto de 2014 Ricardo Salgado tem (?)  mais e outras dificuldades:

A Herdade da Comporta ainda pertence à família Espírito Santo?

Houve Festa da Música?

Alguns dos muitos amigos de Ricardo Salgado estão disponíveis, como ele parece que sempre esteve, para o ajudar?

Mark Twain dizia que um banqueiro é um tipo que nos empresta o seu guarda-chuva quando o sol está a brilhar, mas que o exige de volta logo no minuto em que começa a chover e Ramón Gómez de La Serna dizia que um capitalista é um senhor que, quando fala connosco, nos fica com os fósforos.

Comentando a aparição do Novo Banco, Pedro Sousa Carvalho escreve, hoje, no Público que estamos perante uma solução engenhosa e vergonhosa.

 Ao fazer tábua rasa do património dos mais de 30 mil accionistas do BES, como se se tratasse de um grupo de malfeitores, o Banco de Portugal dá a machada final no mercado de capitais. É mais um caso, como o da PT, da Cimpor ou da Brisa, de atropelo aos direitos dos pequenos accionistas.
Quem aplica o seu dinheiro em acções sabe naturalmente que está a correr riscos. Mas muitos portugueses compraram acções do BES ou não venderam porque confiaram na palavra dos reguladores. E perderam tudo.
Quando no dia 10 de Julho Carlos Costa afiançou que o banco tinha uma almofada de liquidez para precaver qualquer percalço, muitos aforradores confiaram e compraram (ou não venderam) acções do BES. Duas semanas depois veio-se a saber que afinal o buraco no BES era muito maior e que afinal a almofada não chegava para nada. E quem confiou no regulador perde hoje tudo.
E quem comprou acções porque Carlos Costa disse no dia 16 de Julho que havia investidores privados interessados no BES comprou porque confiou na palavra do governador. Confiaram tantos que nesse dia as acções dispararam 20%. Os tais investidores privados nunca apareceram. Hoje as acções não valem nada. Zero.
Carlos Costa não terá culpa de ter sido enganado pela anterior administração do BES ou de ter contratado um auditor que demorou muito tempo a descobrir a real situação do banco. E também, imagino, não terá culpa se havia investidores interessados e que deixaram de estar.
Mas quem não tem mesmo culpa são os pequenos accionistas que investiram no banco (ou não venderam as acções) porque confiaram na palavra do governador. E hoje tem um vergonhoso património de zero. E quando quiserem vender o ‘Novo BES’ no mercado de capitais para encaixar dinheiro para devolver ao Estado peçam àqueles que hoje perderam tudo para voltarem a confiar.

Recuando alguns dias, também no Público (29 de Julho) João Miguel Tavares considerava a morte de Salgado muito exagerada:

Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de ser um desgraçado. É por isso que tantos lamentos me parecem deslocados. Salgado acaba de constituir um gabinete de crise financiado pela sua fortuna pessoal e que, segundo Pedro Santos Guerreiro, deverá custar cerca de um milhão de euros ao ano. Deixem passar a fumaça e aguardem pelo que aí vem. Um homem que teve o poder que ele teve e que sabe o que ele sabe não é coitadinho nenhum. Se Ricardo Salgado abre a boca, metade do regime parte o pescoço ao cair das escadas. As suas contas bancárias até podem ficar a zeros — enquanto ele tiver memória, continuará a ser um dos homens mais poderosos do país.

E Pedro Baldaia, ontem, no Diário de Notícias, lembrava o pior dos pesadelos:

Tudo isto é mau, muito mau mesmo, mas ainda não é o pior dos pesadelos. Imaginem que Ricardo Salgado, tocado pelas santas palavras do Bispo de Roma, resolve redimir-se do seu capital pecado e confessar o carácter diabólico que presidiu às suas relações nas últimas décadas. É que não há banco do regime sem regime, nem regime sem titulares do poder, nem corruptores sem corruptos. Nós sabemos como, entre as migalhas e os grandes banquetes, muita gente comeu à mesa do último banqueiro.
Se ele se confessa, o colapso que se abateu sobre a família Espírito Santo será de repercussões bem maiores, envolvendo outros banqueiros, empresários que foram apenas testas-de-ferro, milionários de toda a espécie, dezenas ou centenas de políticos, alguns jornalistas e magistrados... Não faço ideia se ficaria pedra sobre pedra e até imagino que esta catarse deixaria mais feridas do que curas, mas, pelo menos, viveríamos na verdade.
Deve ser porque vejo muita gente com medo que Ricardo Salgado conte tudo o que sabe que este pesadelo parece real. Ele, afinal, ainda tem muito poder. A destruição criativa continua nas mãos deste homem.

Acreditem:

Esta procissão ainda nem sequer saiu do adro da igreja!

Legenda. imagem da revista Caras de 21 de Agosto de 2012

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