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a revista Caras reportava que Ricardo Salgado dizia-se impossibilitado de desligar
completamente do mundo e era um homem preocupado.
Em
Agosto de 2014 Ricardo Salgado tem (?) mais e outras dificuldades:
A
Herdade da Comporta ainda pertence à família Espírito Santo?
Houve
Festa da Música?
Alguns
dos muitos amigos de Ricardo Salgado estão disponíveis, como ele parece que sempre
esteve, para o ajudar?
Mark
Twain dizia que um banqueiro é um tipo que nos empresta o seu guarda-chuva
quando o sol está a brilhar, mas que o exige de volta logo no minuto em que
começa a chover e Ramón
Gómez de La Serna dizia que um capitalista é um senhor que, quando fala
connosco, nos fica com os fósforos.
Comentando
a aparição do Novo Banco, Pedro Sousa Carvalho escreve, hoje, no Público que estamos perante uma
solução engenhosa e vergonhosa.
Ao fazer tábua
rasa do património dos mais de 30 mil accionistas do BES, como se se tratasse
de um grupo de malfeitores, o Banco de Portugal dá a machada final no mercado
de capitais. É mais um caso, como o da PT, da Cimpor ou da Brisa, de atropelo
aos direitos dos pequenos accionistas.
Quem aplica o seu dinheiro em acções sabe naturalmente
que está a correr riscos. Mas muitos portugueses compraram acções do BES ou não
venderam porque confiaram na palavra dos reguladores. E perderam tudo.
Quando no dia 10 de Julho Carlos Costa afiançou que o
banco tinha uma almofada de liquidez para precaver qualquer percalço, muitos
aforradores confiaram e compraram (ou não venderam) acções do BES. Duas semanas
depois veio-se a saber que afinal o buraco no BES era muito maior e que afinal
a almofada não chegava para nada. E quem confiou no regulador perde hoje tudo.
E quem comprou acções porque Carlos Costa disse no dia 16
de Julho que havia investidores privados interessados no BES comprou porque
confiou na palavra do governador. Confiaram tantos que nesse dia as acções
dispararam 20%. Os tais investidores privados nunca apareceram. Hoje as acções
não valem nada. Zero.
Carlos Costa não terá culpa de ter sido enganado pela
anterior administração do BES ou de ter contratado um auditor que demorou muito
tempo a descobrir a real situação do banco. E também, imagino, não terá culpa
se havia investidores interessados e que deixaram de estar.
Mas quem não tem mesmo culpa são os pequenos accionistas
que investiram no banco (ou não venderam as acções) porque confiaram na palavra
do governador. E hoje tem um vergonhoso património de zero. E quando quiserem
vender o ‘Novo BES’ no mercado de capitais para encaixar dinheiro para devolver
ao Estado peçam àqueles que hoje perderam tudo para voltarem a confiar.
Recuando
alguns dias, também no Público (29 de Julho) João Miguel Tavares considerava a
morte de Salgado muito exagerada:
Ricardo Salgado caiu em desgraça, sim, mas está longe de
ser um desgraçado. É por isso que tantos lamentos me parecem deslocados.
Salgado acaba de constituir um gabinete de crise financiado pela sua fortuna
pessoal e que, segundo Pedro Santos Guerreiro, deverá custar cerca de um milhão
de euros ao ano. Deixem passar a fumaça e aguardem pelo que aí vem. Um homem
que teve o poder que ele teve e que sabe o que ele sabe não é coitadinho
nenhum. Se Ricardo Salgado abre a boca, metade do regime parte o pescoço ao
cair das escadas. As suas contas bancárias até podem ficar a zeros — enquanto
ele tiver memória, continuará a ser um dos homens mais poderosos do país.
E
Pedro Baldaia, ontem, no Diário de Notícias, lembrava o pior dos
pesadelos:
Tudo isto é mau, muito mau mesmo, mas ainda não é o pior
dos pesadelos. Imaginem que Ricardo Salgado, tocado pelas santas palavras do
Bispo de Roma, resolve redimir-se do seu capital pecado e confessar o carácter
diabólico que presidiu às suas relações nas últimas décadas. É que não há banco
do regime sem regime, nem regime sem titulares do poder, nem corruptores sem
corruptos. Nós sabemos como, entre as migalhas e os grandes banquetes, muita
gente comeu à mesa do último banqueiro.
Se ele se confessa, o colapso que se abateu sobre a
família Espírito Santo será de repercussões bem maiores, envolvendo outros
banqueiros, empresários que foram apenas testas-de-ferro, milionários de toda a
espécie, dezenas ou centenas de políticos, alguns jornalistas e magistrados...
Não faço ideia se ficaria pedra sobre pedra e até imagino que esta catarse
deixaria mais feridas do que curas, mas, pelo menos, viveríamos na verdade.
Deve ser porque vejo muita gente com medo que Ricardo
Salgado conte tudo o que sabe que este pesadelo parece real. Ele, afinal, ainda
tem muito poder. A destruição criativa continua nas mãos deste homem.
Acreditem:
Legenda. imagem da revista Caras de 21 de Agosto de 2012
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