O
Dudu, alentejano de Nisa, de uma simplicidade exasperante, conferente marítimo
de exemplar competência, prestava assistência às cargas e descargas da Agência.
Num
Verão, o comandante da Agência, que supervisionava o trabalho da companhia de
estiva, foi passar uma semana de férias para uma habitação de turismo rural,
perto de Nisa.
Por
um findar de tarde, encontrou o Dudu na praça de Nisa, e murmurou para dentro
de si mesmo que o Dudu se sentiria feliz e honrado, se o convidasse para umas
cervejas e um pouco de conversa.
O
Dudu vacilou ligeiramente mas acabou por dizer:
Oh!
Sr, Comandante! honra-me muito o convite, agradeço-lhe do fundo do coração, mas
agora vou até casa, tomar um duche e depois sentar-me porta…
O alentejano define-se pela solidão, o sentar à porta é aquilo
que mais preza, o parar do tempo, a contemplação, no findar de uma tarde de Verão, o calor do
vento, o canto dos ralos, dos grilos, a sombra da porta, o
silêncio, o voo rasante da passarada, a luz das grandes tardes de sol a cair
para lá do horizonte.
Um requintado prazer, uma filosofia.
A porta é o mundo dos alentejanos, escreveu Álvaro Guerra.
Algo que o Comandante, lisboeta e médio burguês, não
entendeu lá muito bem: o Dudu, conferente marítimo, trocar umas cervejas mais a converseta, por essa coisa de
se sentar à porta, no bafo tépido do cair da tarde alentejana…
Sem comentários:
Enviar um comentário