Esta é a semana em que Abril faz 51 anos.
A Música pela Manhã acompanhará algumas das canções, dos acontecimentos, que marcaram aquela madrugada que esperávamos.
A velha
história: todos os começos são difíceis.
Mas poderemos
começar com aquela noite de 29 de Março de 1974, no velho Coliseu dos Recreios
a escassos 28 dias de passarmos a ser livres.
Pegamos em O
Cinéfilo nº 27, datado de 6 de Abril de 1974.
Macário
Contumélias, a quem foi dado reportar o acontecimento, escreveu assim:
«A coisa chamava-se – chamou-se o I Encontro da
Canção. Estavam marcados para se encontrar com a malta o Quarteto de Marcos
Resende, o duo Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo, Manuel José Soares,
Carlos Paredes (com Fernando Alvim); o conjunto espanhol Vino Tinto, que a
televisão já vira; Pablo Guerreiro; Ary dos Santos; José Barata Moura; Manuel
Freire; Fernando Tordo; José Jorge Letria; o conjunto Intróito; Adriano Correia
de Oliveira; José Afonso; Ruy Mingas e Paulo de Carvalho; cá por mim fui lá, por
dever de ofício, a contar com uma grande estopada. Não que, de um modo geral,
eu estivesse com dúvidas sobre a importância da maioria dos convidados no
contexto da nova canção portuguesa (embora não percebesse muito bem o que iriam
lá fazer dois ou três dos que eram para – e acabaram por estar e não – estar
presentes. Nada disso. O que eu temia era que, no meio da confusão, a coisa
resultasse numa pepineira intragável. Mas fui! E agora que aquilo já passou, há
uns dias largos, ainda guardo em mim uma grande emoção. Fosse lá porque fosse,
naquela noite, no Coliseu, senti-me. E isso não nos acontece todos os dias.
Isso é importante!»
Para cima de cinco mil encheram por completo o Coliseu dos Recreios em Lisboa e
assistiram a algo que lhes marcou as vidas.
Tinha acontecido
o 16 de Março, a confusão instalada, alguns a dizerem dizer que estava para
breve, muitos, tantas vezes esperançados e depois frustrados a não acreditarem.
Naquela noite de
emoções várias, passadas as portas do Coliseu, poderíamos pensar que talvez se
aproximasse, assim como o poeta dissera à rapariga, o tal dia em que a
Primavera se soltaria no País de Abril.
Assim foi.
De uma vez só,
ficámos a saber que o acto de cantar é um acto que responsabiliza a pessoa que
canta e as que o escutam.
Vou assinalar
três passos da reportagem do Mário Contumélias:
1.
«Carlos Paredes
Guitarra foi recebido com gritos isolados de «Tira a gravata, pá». Mas veio a
música, e aquela sim, não era comercial, ou por outra, aquela era para ouvir
com todo o corpo.
Os Verdes Anos
foram impostos pelo público, muito mais maduro do que se pensaria.
2.
E entrou, /De pé
como um poeta ou um cavalo/, José Carlos Ary dos Santos. Entrou no palco entre
assobios e aplausos. Pense eu o que pensar do Ary, como poeta ou declamador, a
verdade é que ele tem muita força (aquela força que havia de faltar a Fernando
Tordo). Eu venho cá dizer. Se não gostarem manifestem-se no fim.
E a malta
manifestou-se. Aplaudindo o Soneto Presente. Com dois poemas, Zé Carlos, face à
insistência do público, diz um terceiro, o Retrato de Alves Redol.
3.
«Quando, depois
de Adriano acabar de cantar, José Afonso se aproximou do microfone, as palmas
rebentaram. Venho aqui cantar uma canção, a GRÂNDOLA, disse Zeca.
Cerraram-se as
luzes, e toda a sla, todos os 5 mil, de pé, entoaram em coro os versos da
canção. Braços dados, corpos balanceando, pés, batendo no chão.
Quando o Zeca
acabou, o público ficou lá, erguido ainda, nos camarotes, na galeria, na
plateia, na geral, em todo o lado onde cabia mais um.»

.jpg)
Sem comentários:
Enviar um comentário