Mas, descontada a terminologia, foi sempre mantendo uma
atitude crítica em relação ao modo como a literatura se foi tornando
indistinguível de outros produtos de consumo. E saberá do que fala, uma vez que
foi técnico de publicidade.
A grande tragédia
da minha vida foi ser publicitário. Digo isto muito seriamente. Uma vida que
fui obrigado a viver de forma...
Esquizofrénica?
Exactamente, a
palavra é essa. Nessa altura, a publicidade era vista pelos bem pensantes como
um trabalho quase de prostituição. O facto é que não consegui arranjar emprego
com o curso de Direito, e também não me interessava muito ser advogado. E na
função pública estava proibido de trabalhar por razões políticas. Eu achava que
um dia poderia ir para a diplomacia. Via o Saint-John Perse, esses tipos, o
Paul Claudel, e achava que era o que me convinha. Sentava-me a uma secretária e
tinha tempo para fazer versos. Não fazia mais nada, só versos, e andava com uma
faixa ao peito. É ridículo, mas é verdade que pensava nisto. Também podia ter
ido para Medicina. E se calhar devia ter ido. Houve um professor que insistiu
muito comigo, mas acabei por ir para Direito. Sempre com a expectativa de que
um dia o Salazar ia morrer – caía de uma cadeira qualquer –, e depois havia
liberdade e eu podia ir para a diplomacia.
Entrevista de Luís Miguel Queirós a Armando Silva
Carvalho em Público 1 de Junho de
2017
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