Carta de Jorge
de Sena, datada de Lisboa 11 de Outubro de 1953, para Ant´nio Ramos Rosa:
Meu caro Ramos
Rosa
Não, não acho que V. seja um «chato». Pelo contrário,
agrada-me tanto que apelem para mim! Agrada-me tanto poder ser útil ou
agradável por pouco que seja! E aqui tem também V, como eu também sou:
fiquei-me embevecido no agrado do apelo e, disperso pela minha vida (o seu
postal apanhou-me até ausente no Porto, em serviço), não acudi e era o que
quereria, mais o que devia. Perdoa-me V. o silêncio e a demora? E está V;
melhor?
Por este correio, seguem o último número da Critique e o livro do Caillois, em que V,
fala, e que tenho em espanhol por sinal (para o caso tanto faz).
Não, Rosa, eu não assino nada (nem pude ainda renovar
a assinatura da Critique), e
mal compro um livro – se o dinheiro nem me chega para eu e a família passarmos
ao mês seguinte! Não tenho o Frénaud em que me fala também. O livro do Monnerot
chama-se Les faits sociaux ne sont pas
des choses – é de muito interesse, mas não o tenho também.
Noutro passo da
carta, sena escreve:
Porque, meu caro Rosa, não só com poemas nunca ninguém
ganhou a vida, mas, bem pior que isso (visto que nos deveria assistir o direito
de não a ganharmos…), se perde a independência perante a realidade, que, em si
mesma e sem nós, não é poética.
Faço-me compreender? E vai longe o tempo dos Mecenas e das princesas de Thurn e
Taxis emprestando castelo aos Rilkes.
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