17 de Agosto de 1949
Os suicidas são homicidas tímidos. Masoquismo em vez de sadismo.
O prazer de fazer a barba depois de dois meses de reclusão –de me
barbear a mim próprio. Diante de um espelho, num quarto de hotel, lá fora o
mar.
É a primeira vez que faço o balanço de um ano por concluir.
No meu ofício, portanto, sou rei.
Em dez anos consegui tudo. Quando penso nas hesitações de outrora.
Na minha vida, sinto-me desesperado e perdido como não me sentia então.
Que acrescentei? Nada. Ignorei durante alguns as minhas taras, vivi como se
elas não existissem. Fui estóico. Era heroísmo? Não, não me custou. E depois,
ao primeiro assalto da «inquietação angustiosa», caí de novo nas areias
movediças. Debato-me desde Março nelas. Não têm importância os nomes. Serão por
acaso mais que nomes dados pela sorte, nomes fortuitos – esses, ou outros?
Resta que sei agora qual é o meu maior trunfo – e a tal triunfo falta a carne,
falta o sangue e falta a vida.
Nada tenho a desejar nesta terra, excepto aquilo que quinze anos de
insucesso excluem a partir deste momento.
Eis o balanço deste ano por terminar e que não terminarei.
Espantas-te de que os outros passem a teu lado e não saibam, quando tu
p+roprio passas ao lado de tanta gente sem saber: Não te interessa qual o pesar
de cada um, o seu cancro secreto?
Cesare Pavese em Ofício de Viver
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