Crónica de Uma Morte Anunciada
Gabriel Garcia
Márquez
Tradução: Fernando
Assis Pacheco
Capa: João Segurado
Edições O Jornal,
Lisboa, Agosto de 1983
No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5.30 da manhã
para esperar o barco em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava uma
mata de figueiras-bravas, onde caía uma chuva miúda e branda, e por instantes
foi feliz no sono, mas ao acordar sentiu-se todo borrado de caca de pássaros.
“Sonhava sempre com árvores”, disse-me a mãe, Plácida Linero, recordando 27
anos depois os pormenores daquela segunda-feira ingrata. “Na semana anterior
tinha sonhado que ia sozinho num avião de papel de estanho que voava sem
tropeçar por entre as amendoeiras”, disse-me. Tinha reputação bastante bem
ganha de intérprete certeira dos sonhos alheios, desde que lhos contassem em
jejum, mas não descobrira qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do filho,
nem nos restantes sonhos com árvores que ele lhe contara nas manhãs que
precederam a sua morte.
Santiago Nasar também não reconheceu o presságio. Dormira pouco e mal, sem despir a roupa, e acordou com dores de cabeça e com um sedimento de estribo de cobre na boca, e interpretou-os como estragos naturais da farra de casamento que se tinha prolongado até depois da meia-noite.
Santiago Nasar também não reconheceu o presságio. Dormira pouco e mal, sem despir a roupa, e acordou com dores de cabeça e com um sedimento de estribo de cobre na boca, e interpretou-os como estragos naturais da farra de casamento que se tinha prolongado até depois da meia-noite.
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