Não é só o ano que começa. Qualquer que seja a nossa ideia ou a estação
em que nos encontremos a viver, a verdade é que somos, até ao fim, uma coisa no
seu começo, a verdade é que habitamos unicamente começos. Nada mais. Não vimos outra
coisa enquanto estivemos aqui. A nossa estirpe é a dos recém-nascidos,
portanto. Uma das mais belas frases que conheço pertence a uma página bíblica,
a Primeira carta de Pedro. E a frase diz (ou ordena) o seguinte: “Como crianças
recém-nascidas, desejai” (IPe2,2). Somos, mesmo com dezenas, com centenas de
anos e séculos em cima, “crianças recém-nascidas”. E devemos muito à
fragilidade dos recém-nascidos que, no fundo, ainda é nossa, que, sabemos, será
sempre nossa.
José Tolentino
Mendonça no Expresso, 5 de Janeiro de
2018
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