16 de Agosto de 1949
Querida, és tua talvez a melhor – a verdadeira. Não tenho, porém, tempo
de to dizer, de to comunicar – e depois, mesmo se pudesse fazê-lo, ficará
sempre o sinal, o sinal, o fracasso.
Vejo claramente, hoje, que dos vinte anos até agora vivi sempre sob
esta sombra – alguns diriam que é um complexo. Que o digam então: é algo muito
mais simples.
Tu, tu também és a Primavera harmoniosa, inacreditavelmente suave e
flexível, suave, fresca, fugaz – corrompida e boa - «uma flor do aprazível vale
do Pó». Diria alguém que conheço.
E no entanto, tu és, tu também, um pretexto apenas. A culpa além de ser
minha, é apenas da «inquietação angustiosa, que sorri solitária».
Morrer porquê? Nunca me senti com tanta vida como agora, nunca tão adolescente.
Nada se acrescenta ao que ficou para trás, ao passado. Recomeçamos
sempre.
Um prego expulsa outro. Mas quatro pregos fazem uma cruz.
O meu papel no mundo cumpri-o – fiz o que podia. Trabalhei, dei poesia
aos homens, tomei parte no sofrimento de muitos seres.
Cesare Pavese em Ofício de Viver
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