quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

AGORA NÃO RESPONDO MAIS NADA


Terminamos a entrevista que João Pedro George fez a Luiz Pacheco, uma das melhores entrevistas que fazem parte de O Crocodilo Que Voa.
Tem um final mesmo à Pacheco, põe o jornalista a andar, porque está cansado, tem de ir mijar e comer qualquer coisa…

Vai sair na Dom Quixote, em breve, um diário inédito, o Diário Remendado...

Aquele diário é uma conversa comigo mesmo, um desabafo... e é um fragmento de um fragmento do meu diário... é uma amostra, um fragmento daquele período, entre 1971 e 1975... deitei muita coisa fora... tirei mais de metade...

Inclusive o relato do 25 de Abril...

Esse corte foi deliberado... eu não gosto daquele texto... era uma resposta aos gajos que faziam artigalhadas mais ou menos inventadas com o título “O meu 25 de Abril”... aquilo era tão presunçoso... não foi só um gajo, ainda foram uns quantos... se tu fores consultar os jornais na altura verificas isso... era uma paródia a esses gajos... Como é que foi o seu 25 de Abril? Ó pá, os colhões do Padre Inácio... já ninguém liga ao 25 de Abril...

Foi de pijama para o Largo do Carmo...

Mas não foi de propósito... eu estava em casa, sozinho, o Paulo tinha ido para o liceu, estava a rever provas do Pacheco versus Cesariny... de repente chateei-me, não tinha telefonia, não tinha televisão, não tinha nada, chateei-me de rever provas e disse vou ali beber uma cerveja e quando venho de beber a cerveja há o barbeiro que me diz «ó senhor Pacheco, olhe que há revolução em Lisboa». Então enfiei o sobretudo que me deu o marido da Natália Correia e fui para Lisboa... não foi de propósito que eu fui para o Carmo de sobretudo e pijama... Agora não respondo mais nada… Estou cansado… são 80 anos, caramba! Vá, pira-te que eu tenho de mijar e tenho de ir comer qualquer coisa…

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