Datada de 11 de
Agosto de 1953, uma carta desesperada, entre tantas outras, de António Ramos
Rosa para Jorge de Sena.
Uma aguda solidão,
problemas de saúde, sem meios económicos
para uma qualquer assistência médica, e, pelo meio o germinar de uma obra
notável de um dos maiores intelectuais portugueses.
Tenham em atenção que
a Assírio & Alvim já publicou o 1º volume da sua Obra Poética, uma edição organizada
e revista pelo poeta Luís Manuel Gaspar, com a colaboração da viúva do poeta, a
poetisa Agripina Costa Marques, e da filha, Maria Filipe Ramos Rosa.
Oxalá eu estivesse a entrar numa fase madura de consciencialização e V.
me pudesse ser de algum valimento. Eu sou hoje alguém que, com todo o corpo e
toda a alma, desejo ser sadio. Integral, consistente, elementar. Não por
capricho de intelectualidade blasée,
mas por imperativos vitais e morai, por necessidade de salvação. Uma conversão
radical se há-de dar, no meu corpo ou no meu espírito, ou em ambos, ou então a
morte purificadora. O seu bom conselho de não me deixar devorar pela solidão e
de tomar posse dela tem sido possível de certo modo, dentro das minhas fracas
possibilidades, mas o que se impunha era uma matéria real em que essa posse não
se volatizasse a todo o instante. Infelizmente a minha saúde não tem melhorado
e, desprovido de meios económicos e qualquer assistência médica, estou
simplesmente entregue a esta tensão desesperada de superação, a esta vontade de
me salvar.
Tenho os números de Critique
que me enviou quase todos lidos. É uma revista indispensável, magnífica. Talvez
seja muito triste confessar-lhe que as verdadeiras férias e alegrias deste
Verão foram para mim a leitura dos excelentes ensaios que nelas encontrei.
Dentro de dias lhas enviarei.
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