Voltava a fumar e fazia-o sem
quaisquer remorsos, porque sabia que um dia deixaria de fumar e recuperaria.
Fumava sem limites e escrever, para mim, era um acto complementar do prazer de
fumar. Escrevia sobre alguém que se regia pelo princípio de nunca fumar
enquanto dormia, mas durante o dia fumava; alguém para quem o fumo era o sonho
do fogo. Era eu, que finalmente voltava a ser o mesmo. Eu que ultimamente estou
a voltar a ser quem era, estou a regressar pouco a pouco à vida, como quem
desperta de um desfalecimento. Até me desculpei diante dos meus superiores e,
num dos meus subterfúgios humorísticos, aleguei um pequeno desmaio de várias
semanas.
Enrique Vila-Matas em
Diário Volúvel
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