segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

SOU UM CHATO MUITO GRANDE!


Em carta, datada de 30 de Julho de 1973, Jorge de Sena, sobre os números da Critique, responde a António Ramos Rosa:

Por este correio seguem 8 números da Critique (7 fascículos – Junho 1952 a Janeiro 1953). Daí em diante estão emprestados ao Casais Monteiro; e daí para trás, suponho que são os que V. leu. Não são uma dádiva celeste que lhe faço – é um empréstimo que repito com gosto. E deixe-me dar-lhe um conselho (não se zanga?) – não se confine aos artigos exclusivamente literários. Um dos meus maiores receios em relação ao desenvolvimento daquele, para todos os efeitos. Mais novos, é que se confinem demasiado ou na poesia (que mata tudo) ou no «letrismo» (que não mata nada, o que será ainda pior). Os ângulos de compreensão que uma cultura variada permite sobre a vida podem muita vez salvar-nos do desespero que sempre nos acompanha por um caminho demasiado único.
Que ideia a sua! – então eu não lhe responderia, porque a sua resposta não «correspondia» não sei quê de belo e grande que lhe escrevi. Nunca V. deixe que a solidão se apodere de V.: apodere-se V. dela, que é seu dever de poeta ( e dê de comer à sua águia… em vez de o dar aos macacos do sótão… - eu sei que a águia já não  se usa, mas ainda serve).

Jorge de Sena envia ainda um P.S.:

Trate-me as revistas com estimação, sim? Sou, de facto, um «chato» muito grande – tenha paciência.

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