quarta-feira, 3 de setembro de 2025

TEU PAI UM POTRO DE SANGUE

Teu pai um potro de sangue

emprenhou uma gazela

tu nasceste mas exangue

a vencida foi sempre ela.

 

A pouco e pouco cresceste

nos túneis da liberdade

nos túneis porque nas ruas

era bem outra a verdade.

 

Um povo inteiro pagava

o tributo de existir

e servia a quem mandava

agonizar a sorrir.

 

Depois menino batido

por tantas feras à solta

foste aprendendo o sentido

da vingança e da revolta.

 

Em ti deitaste raiz

tronco fino mas não frágil

e inventaste um país

maior mais livre e mais ágil.

 

De tudo te disfarçaste

cigano vadio actor

mas nunca te amordaçaste

nem português nem escritor.

 

Escrevendo com sangue e letras

entraste na grande guerra

e dos operários poetas

que escreveram esta terra.

 

Hoje a luta recomeça

mas já de igual para igual

muito obrigado Bernardo

Santarém de Portugal.

 

José Carlos Ary dos Santos

 

NOTA DO EDITOR:

Este poema/canção faz parte da peça Português, Escritor, Quarenta e Cinco Anos de Idade de Bernardo Santareno, representada pela primeira vez em 5 de Julho de 1974 no Teatro Maria Matos, numa encenação de Rogério Paulo. A música é de Fernando Tordo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pela partilha! Existe também algum registo da música de Fernando Tordo disponível para consulta?

Sammy, o paquete disse...

A pesquisa , não exaustiva que fiz, não permitiu encontrar a canção na discografia do Fernando Tordo. Mesmo o poema do Ary dos Santos não o encontro nos seus livros. Apenas conheço o poema da peça de Bernardo Santareno: «Português, Escritor, 45 Anos de Idade».

Anónimo disse...

Pois, tenho estado à procura de registos da peça para localizar a música mas ainda não consegui nenhum resultado. Obrigado mais uma vez pela partilha e pela ajuda!