quarta-feira, 17 de setembro de 2025

FIM DO SÉCULO

Já só o encantamento de ti resta

no verso em que soubeste transportar

a luz desaparecida de uma festa

para a amargura acesa de um olhar.

 

O século que finda já nos deu,

para além das palavras mais vazias,

a estrela d’alva aonde morre o céu

em vãs constelações, por demais frias.

 

Manhã se diz a treva iluminada

que ri no limiar do pensamento,

como se à terra nua e devastada

coubesse o culminar do firmamento.

 

Como um deus que se esconde na folhagem,

o vão poeta nasce desta imagem.

 

Luís Filipe Castro Mendes em Poemas Reunidos

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