terça-feira, 9 de setembro de 2025

O TEMPO SUJO

Há dias que eu odeio

Como insultos a que não posso responder
Sem o perigo duma cruel intimidade
Com a mão que lança o pus
Que trabalha ao serviço da infecção

 

São dias que nunca deviam ter saído
Do mau tempo fixo
Que nos desafia da parede
Dias que nos insultam que nos lançam
As pedras do medo os vidros da mentira
As pequenas moedas da humilhação

 

Dias ou janelas sobre o charco
Que se espelha no céu
Dias do dia-a-dia
Comboios que trazem o sono a resmungar para o trabalho
O sono centenário

 

Mal vestido mal alimentado
Para o trabalho
A martelada na cabeça
A pequena morte maliciosa
Que na espiral das sirenes

Se esconde e assobia

 

Dias que passei no esgoto dos sonhos

Onde o sórdido dá as mãos ao sublime

Onde vi o necessário onde aprendi

Que só entre os homens e por eles

vale a pena sonhar.

 

Alexandre O’ Neill em No Reino da Dinamarca

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